Luta

Luta

Pedro Coimbra

ppadua@navinet.com.br

David defendia seu rebanho e nas horas vagas tocava sua harpa. Seus irmãos guerreavam contra os filisteus. David soube que aquele que matasse o gigante Golias receberia uma fortuna em ouro e também como esposa Merab, a mais velha das filhas do Rei Saul. Em um ribeirão, escolheu cinco pedras, colocou-as na sua sacola, carregou uma funda e foi desafiar o famigerado Golias. O pastor apanhou uma pedra na sacola, colocou-a na funda e atirou. Ela penetrou na testa do filisteu, fazendo-o cair. David pôs-se de pé sobre o gigante e, com a própria espada de Golias, o degolou. E o Rei Saul não lhe deu Merab, a princesa prometida...

Maravilhosas as histórias da Bíblia Sagrada que contém as inúmeras vertentes do comportamento humano! Como esta de David que é bastante violenta...

Sempre julguei ser necessário um pouco de agressividade para enfrentar o cotidiano do ser humano. Ela costuma ser aceita e estimulada quando pode ser considerada sinônimo de iniciativa, ambição, decisão ou coragem.

Não que eu fosse adepto da violência pura, sem nenhum sentido. Mas sempre gostei de luta livre e boxe.

O gosto pela mais nobre das artes começou no dia em que estávamos na Praça de Esportes e chegaram algumas caixas pela transportadora. Tudo ali estava abandonado, em péssimo estado de manutenção. A começar de uma moderna sede iniciada e não acabada. A água da piscina esverdeada, com um cheiro horrível, permanente. Por todo os cantos azulejos quebrados, cortantes como a lâmina de uma faca. As tábuas dos trampolins ameaçavam quebrar a qualquer momento causando acidentes graves. Os vestiários nauseabundos, com os encanamentos vazando e raízes das árvores ao derredor invadindo os vasos sanitários. Todos que se aventuravam a nadar naquelas águas nojentas tornavam-se portadores de mazelas na pele e nos olhos.

Os professores Lima e Moraes abriram as caixas e dentro delas surgiu um vasto material de treinamento de boxe.

O professor Lima que esperava que houvessem enviado, pelo menos, sapatos de prego e bolas para o pessoal do atletismo e do basquete saiu furioso, xingando os administradores da Diretoria de Esportes de Minas Gerais, responsáveis por mais aquele erro brutal.

E a criançada tomou conta de tudo.Luvas de treinamento nas mãos partimos para a franca pancadaria.

Anos depois saíamos do Escritório de Furnas, onde hoje funciona a Funerária Carvalho e rumávamos para a Praça de Esportes.

Danton Pires Barroso, um sujeito enorme, ensinava o Rotiê Junqueira Mendes, o Carlos Roberto Gomes, eu e mais um pequeno grupo, os truques da luta livre.

Foi bom até o dia em que quebrei um dedo do pé, que agarrou na lona que compunha o ringue e fui parar na mãos do Dr. Sylvio Menicucci, na Santa Casa.

Anos depois morava em Brasília e fui assistir uma luta de Éder Jofre.

Ele se notabilizara na categoria peso Galo, e como peso Pena vencera 25 das 25 lutas que realizou e nesta noite conquistou o título mundial dos Penas, versão Conselho Mundial de Boxe, contra o espanhol José Legra, um lutador talentoso e cheio de manhas.

Ao meu lado sentou-se uma moça muito bonita que disse se chamar Esterlina, não entendia nada de boxe e era assessora de um político nordestino que a trouxera para sua assessoria. Gostava mesmo era de fazer poesias e chegara ali, junto com mais de vinte mil pessoas, por acidente.

Com o passar dos anos passei a julgar que aquela linda mulher, a Esterlina que sentara ao meu lado naquela noite, não passava de uma visagem...