A casa das loucas

Conheci quando menino em minha terra natal a casa das loucas ou a casa da velha Aninha Soares. O povo de minha terra chamava a casa das duas loucas ou a casa do seu Manuel Francisco que era casado com uma irmã das duas doentes mentais que se chamavam Maria e Joana. O meu irmão mais velho sempre me levava para cortar meu cabelo com o seu Manuel Francisco que era o melhor barbeiro de Malhadinha. Eu tinha uns sete ou oito anos e tinha um enorme medo da tesoura do seu Manuel e muito mais medo eu tinha era das duas irmãs loucas e presas num quarto sujo que me deixava bastante comovido vendo aquelas duas criaturas numa prisão irregular como se elas tivessem matado alguém. Quando eu perguntava as minhas tias por que aquelas duas pessoas viviam presas as minhas tias me respondiam que era um caso de doença. Eu fui com a minha tia Josefa muitas vezes deixar comida aquelas duas criaturas sofredoras que estavam pagando o que realmente não tinham feito. A tia Ana Rosa tinha muita pena delas e sempre mandava alguma comida ou algumas roupas para as duas irmãs doentes que o povo ignorante as tratava de loucas varridas. Seu Manuel Francisco sofria muito com estas duas criaturas enfermas e com insulto do povo imbecil que não respeita o sentimento alheio nem mesmo no ato de doença. Ainda tenho saudade das duas irmãs doentes porque elas me queriam muito bem e me chamavam o menino da Teté. Este tratamento me deixava muito feliz porque estava ligado ao nome da minha tia Josefa a quem eu queria muito bem e tinha como uma mãe verdadeira, uma mãe sem igual. A casa das duas irmãs enfermas marcou a minha vida de menino solitário que sempre teve medo da solidão e sobretudo da loucura.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 02/08/2019
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