Outra vez.

Outra vez.

Acordo sobressaltado. Suado. Sonhei com ela uma vez mais e em meu sonho tudo parecia muito real. Tento dormir outra vez e, nada. Cautelosamente, como um caracol saindo de sua concha, estico o pescoço em direção ao criado mudo para ver que hora marca o relógio que, no seu tic tac, está programado para despertar às seis horas. Ainda são duas da madrugada.

Sentado à beira da cama, enfio o rosto nas mãos e tento conter um choro que me vem do fundo do peito. Chego a soluçar. Engulo o choro na marra. “Meu Deus! Como isso ainda acontece comigo?”

Busco ouvir o som da rua. Um silêncio sepulcral. De lá distante, me chega aos ouvidos o canto de um galo solitário e madrugador. Igual a mim. Quem sabe não está cantando para espantar seus males? - penso comigo.

Lentamente, ergo-me da cama. Vou até a janela e levando os olhos para as estrelas que parecem brilhar dentro de um imenso véu negro. São tantas, uma junto das outras, cintilando. Não tem lua.

Agora já ouço alguns latidos dos cães vira lata nos latões de lixo.

De súbito, uma mudança. Começa a ventar forte e, aos poucos as estrelas do céu começam a se esconder atrás das nuvens. Começa a cair uma chuva forte. Os cães correm para debaixo das marquises. Fecho a janela. E na minha mente, martelando, a imagem dela, que me persegue. Dou alguns passos sem sentidos pelo quarto. Acendo a luz do abajur e tento ler um livro. Abro ao meio e, lá estão os versos: “ o poeta é um fingidor; finge tão completamente, que chega fingir que é dor, a dor que deveras sente” de Fernando Pessoa. Será? Isso eu já sei de cor. E na minha mente, martelando, a imagem dela.

“Estou só, minha janela vou fechar, vou chorar de madruga e esperar você voltar....”

Quando a paz voltar e o dia clarear, abro a janela outra vez.

Dmir Pessoa
Enviado por Dmir Pessoa em 03/08/2019
Código do texto: T6711298
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