De novo, café com Getúlio.

Não é a primeira vez que tomo café conversando com Getúlio Vargas.

Ganhei de uma vizinha, há anos, uma xícara comemorativa do IBC, que guardo como uma relíquia na cristaleira que ganhei do meu marido.

Escrito Instituto Brasileiro do Café em várias línguas, uso a xícara quando quero conversar com ele.

Getúlio faleceu 4 anos antes do meu nascimento, mas acontece que dei inúmeras aulas nesta vida sobre a Era Vargas, que acho que ele é meu compadre.

Quer dizer, compadre nem tanto, pois tenho um ranço enorme por essa pessoa em função da implantação da ditadura do Estado Novo, da prisão e deportação da Olga Benário, da condenação de opositores à tortura pelas famigeradas mãos de Filinto Muller, pela clandestinidade forçada do Partido Comunista, mas jamais escondi a minha admiração e o meu respeito pelo seu nacionalismo, pela consideração pelas coisas do Brasil, pela criação de estatais poderosíssimas que nos deram a feição do desenvolvimento, da estabilidade, da urbanização e da criação de milhares de empregos. E muitas, muitas esperanças!

Na realidade, Getúlio, eu sempre nutri um respeito muito profundo pelo seu governo e pelo compromisso com o meu país.

Se eu pudesse te contar o que está acontecendo agora, Getúlio, você duvidaria de mim até a morte (ops, perdão!).

Você jamais iria acreditar com o que fizeram com o outro presidente, igualmente nacionalista, que lutou bravamente para transformar uma cultura de pobreza numa cultura de transformação, como bem falou o professor Antônio Cândido. Ou como assinalou de forma magistral o mais conceituado historiador do século XX, o inglês Eric Hobsbawn: "tamanho é o impacto da eleição de Lula para a Presidência da República no Brasil que este é um dos poucos eventos do começo do século XXI que nos dá esperanças para o resto deste século" (in: Lula, o filho do Brasil, de Denise Paraná, ed. Fundação Perseu Abramo).

Você iria duvidar de tudo o que eu te contaria.

Petrobras, Vale do Rio Doce, Leis trabalhistas e muito, muito mais... tudo indo para o espaço. Aliás, a Vale foi privatizada há mais tempo por um tucanato com aquela indisfarçável e incorrigível cara de casa grande e que jamais perdeu a pose.

Mas eu volto a dizer: tudo para os EUA, afinal, o que é bom para os EUA é bom para o Brasil, acreditam os velhos boçais entreguistas que não sabem o que é corar de vergonha.

Getúlio, inventaram um tal de mito (desculpe, mas a rima só pode ser vomito). Mas eu não vou te infernizar com isso agora. O aniversário do seu falecimento evoca uma tragédia pessoal sem conta. Se eu te contasse um pouco, um tiquinho só, desse tamanhinho, você diria que eu sou uma insana ou esclerosada... ou qualquer coisa. E duvidaria de tudo.

Eu te confesso: sempre votei certo, visando o social e nunca os meus interesses pessoais, porque me sinto privilegiada diante de tudo o que existe nesse país para a maioria da população. Jamais pensei em beneficiar os tradicionais donos do poder.

No seu tempo havia o Assis Chateaubriand a te infernizar, junto com Carlos Lacerda et caterva. Hoje, além da rede globo, temos seitas que pipocam e dizem que tudo é vontade de Deus.

Só que o meu Deus é diferente desse que apregoam por aí. Um deus injusto, dinheirista (pode acreditar!), interesseiro...

Deixa estar, Getúlio.

Haveremos de aprender a resistir.

Hoje a Amazônia está em chamas bem como as crenças num país melhor, desenvolvido e inclusivo.

E mais: tem gente que acha bonito, que é coisa da natureza... ou da vontade do deus deles.

Getúlio, está insuportável viver por essas plagas.

Manda novamente algum cheirinho de alecrim.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 24/08/2019
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