O TRADUTOR

Dezesseis anos. Calça jeans caída nos fundilhos, camiseta preta com estampa do Metálica e tênis mais sujo que pau de galinheiro. Assim era Alberto. Um autêntico representante da adolescência que amava Led Zeppelin e detestava banho. Um rebelde sem causa e língua própria.

-Buenas velharada. Mother, o rango ta pra jogo?

O pai julgava um caso perdido, não fosse o pequeno Francisco de oito anos. O irmão menor, dos seis que a mãe havia posto no mundo.

-Chiquinho. O que esse demente falou?

-Ele perguntou se o almoço já esta servido, papai.

-O que é que fizemos de errado, mulher? Era um menino tão educado, agora parece uma seqüela do Rock in Rio.

-Qual é velho. Segue papirando que eu me quedo sólito. Alone.

-Calma pai, segue lendo o teu jornal, que ele fica quieto, sozinho, sem importunar. - Traduziu Chiquinho

-Mother. Manhana bate no tacho as nove agá, que eu vou rolar um caroço com a galera.

-Chega. Que monte de besteira... mulher. Eu já cansei desse guri... e a culpa é tua...agora esta ai. Não Faz nada. Não trabalha, não estuda, passa as noites da rua ou então na internet. Depois dorme até o “aquilo” fazer bico, e eu ainda tenho que agüentar estas bobagens... Chico, traduz o que esse cara disse?

-Mamãe. Amanhã me chama as nove horas que vou jogar um futebol com os amigos... Foi isso.

O pai sentia-se tão indignado que um dia perdeu o resto de paciência que lhe sobrava e colocou-o pra fora de casa. Literalmente mandou Alberto se virar.

Aquela atitude deixou o caçula tão traumatizado que ficou completamente mudo. Os dias se sucederam e o pequeno Francisco sem dizer uma só palavra.

Dois meses se passaram. A mãe dia e noite cobrando a falta do filho mais velho.

-Você é o culpado. Mandou meu filho embora... ele pode estar passando necessidade, fome, frio. Quem sabe até dormindo embaixo da ponte... você é o culpado... você.

A coisa chegou num ponto que o marido não suportou mais, e foi procurar o filho, trazendo-o para casa. Tudo voltou a ser como antes.

-Papai. Porque o senhor não fica mais bravo com as coisas que o Alberto fala? – Pergunta o Chiquinho.

-Pior é ficar com a tua mãe zoando no meu ouvido. Fazendo greve na cama. O teu irmão fala coisas que eu não entendo... mas com ele eu não preciso dormir. – Disse o pai de pijama novo, esfregando as mãos.

Brandt Acosta
Enviado por Brandt Acosta em 28/09/2007
Reeditado em 29/09/2007
Código do texto: T672834