Manhã
Estou acordada faz um tempo já. Está muito quente mas não me solto de você. O seu despertador toca, mas você não me diz que vai embora. Diz que vai ao banheiro e desliza pra fora da cama. Já sabe que assim eu me desenrolo de você mais rápido.
Eu finjo dormir, mas pelas pálpebras entreabertas eu te assisto enquanto você se arruma e guarda suas coisas se preparando pra sair. Metódico. Cauteloso pra não fazer barulho.
Você vira, me vê de olhos abertos e abre um sorriso que acende o sol.
- Acordada?
- Te olhando.
Você senta na borda da cama, me beija e eu respiro fundo.
Será que você vê? Meu olhar tão pacífico esconde um oceano de fogo que você acendeu com seu calor. Dá pra sentir daí?
Você se levanta e continua ajeitando as coisas enquanto eu queimo em fogo lento. Quanta coisa eu queria saber dizer pra você nesse momento tão tranquilo.
Quero saber te falar sobre essa noite e as horas que passei vigiando seu sono. Quero te falar sobre a textura dos teus cabelos e o conforto dos seus braços. Quero falar sobre os contornos das suas costas e sobre como sua mão segura gostoso a minha.
Quero falar sobre o amor e o medo que você me dá, quase que em doses iguais, mas também sobre a paz que me traz.
Quero agradecer a intelectualidade, o riso e a doçura, a proteção, o aconchego.
Mas é tudo tão grande pra caber em um momento, e você já está indo embora. Da soleira da porta você me sopra um beijo:
- Bom dia, meu bem.
- Bom dia.
E se lança pra fora.
Ora, veja meu bem, esqueci também que queria te falar da saudade...