O GRANDE DUELO ENTRE OS DEUSES NOS FESTEJOS DE COCAL.

O Grande Duelo entre os Deuses nos Festejos de Cocal.

Na pequena cidade de Cocal, todos os anos, acontecem uma das maiores e memoráveis disputas entre o bem e o mal. A festa da Padroeira! Sempre no mês de agosto, o município é enaltecido pelas festividades em comemoração alusiva a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Centenas de pessoas das mais diferentes regiões do Brasil se deslocam para o município, com a intenção de pagarem promessas “alcançadas” ou fazerem novos pedidos. Na praça da Matriz é montado um pequeno altar à frente da igreja, e cercado por cadeiras e bancos, onde receberá, durante nove noites, os fiéis que acompanharão as celebrações, dirigidas pelos padres da Igreja Católica Apostólica Romana, com fé e regozijo. No final de cada cerimônia religiosa, são ofertadas pequenas moedas, por parte dos visitantes à igreja, em forma de “esmolas”, depositadas em pequenos sacos, pendurados em cabos de madeiras e levados por simpáticas senhoras que circulam entre a multidão. São “Almas Generosas” que cuidam da coleta, na ajuda à Casa de Deus. Ainda são realizados os leilões, numa disputa pelo menor preço, na compra dos produtos, “joias” doadas pela própria comunidade e arrematadas pelos mesmos. Também são construídas pequenas barracas onde comercializam-se, os mais diferentes produtos, como: vatapá, chá de burro, arrumadinho, creme de galinha, bolos, etc. Tudo disputadíssimo. Ainda se encontram camisas com a foto da Santa, chaveiros, santinhos, terços, Bíblias, etc. No decorrer da festividade ainda acontecem os casamentos, batizados e outros. Tudo em nome de Deus. Fazendo parte da mesma Festa, a poucos metros dali, em uma outra praça, também é montado um grande Panteão. Após a ´benção ofertada pelo padre, ao término da Santa Missa, na praça da Matriz, os visitantes e fiéis são atraídos pelo som dos tambores e rajadas de canhões de luzes que cortam os céus. A multidão se desloca por meio das barracas até o segundo palco. A festa começa e um show frenético e extasiante envolve a todos. O Deus Quirino é exaltado! Aplausos ao grande idealizador. Centenas de barracas estão espalhadas no entorno do grande palco. O agido é contagiante! Corpos que há pouco recebera o Cristo, em forma de hóstia, “o pão da comunhão”, agora embriagam-se nos prazeres da bebida e da carne. A grande festa é comandada pela ritmo da banda. Ninfas e Bacantes, seguidas de Faunos, crepitam no salão a céu aberto. Som, fumaça, álcool e sexo são elementos condizentes da alegria e êxtase dos Deuses. Há momentos que surgem violências, brigas, acidentes, entorpecentes, empurrões, drogas; mas fazem partes da orgia do Deus Mercúrio. Varam a noite. É festejo! A Deusa Vênus desfila majestosamente. Hades e seu barqueiro, Charon e Thânatos, estão atentos! Dominam a grande festa. É preciso cuidados. Homens de pretos com cassetetes vigiam desafiadoramente os “endemoniados”. Os prazeres mundanos dominam, e todos se regozijam das mais diferentes formas de prazer. Rebolam seus corpos, pulam e se esfregam uns aos outros. O Cupido desfecha suas flechas, aleatoriamente, com a essência da alegria contagiante, provocando abraços e beijos. Termina a noite! Todos estão cansados, esgotados. É hora de regressar as suas casas. A praça deserta, recebe os primeiros raios do Deus Apolo, iluminando o palco da grande batalha. Copos, latinhas espalhadas pelo chão. Ainda dá para sentir a presença do Deus Baco. O cheiro forte de bebidas e pontas de cigarros ainda contaminam o ar. Tempo suficiente para as Deusas de amarelo, limparem o cenário, e tudo a noite voltar a se repetir. Chega o dia 15 de agosto. É o dia da Festa da Padroeira. A cidade é tomada por uma calmaria. É hora da grande procissão. Último dia do Festejo de Cocal. Todos os outros Deuses Romanos desapareceram. Uma multidão de abençoados, e arrependidos caminham, lentamente, pelas principais ruas da cidade, acompanhando o andor da Santa. Não há mais festa! Apenas orações e cânticos religiosos. É hora de agradecer a Padroeira. Apenas uma praça será ocupada por aqueles que resistiram bravamente ao grande duelo entre os Deuses. Aos vencedores, a benção final do padre, e a proteção de N.S.do Perpetuo Socorro. Até um novo encontro no ano que vem.

Amém!

João Passos

Joao Passos
Enviado por Joao Passos em 05/09/2019
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