Silencioso invasor

Mais um "textão"

" Silencioso invasor"

A casa era bonita,tinha janelas que davam para a rua,e cortinas como laços de fita.No chão era muito brilho, com uma "cera " chamada "vermelhão".A dona da casa era uma mulher bonita,dos claros olhos, rosto suave como seu coração e seu sorriso.O marido era um preto lindo, baixinho, sorriso bonito e apelido de passarinho! Eram oito irmãos, unidos, felizes.

"Penso que naquele tempo todos éramos felizes, e estudar,ter roupa limpa, brincar, nos bastaria"

A mãe tinha orgulho por fazer de seus filhos pessoas de bem, inteligentes, com empregos"garantidos"por concurso,mais tarde, como ela assim dizia.

A casa bonita chorava com as enchentes, poucas, porém devastadoras.

" Choveu lá em Cunha! Aqui está com sol, mas o rio começa a ficar lento,a água flui devagar, quase pára.O velhinho de preto,anda lá e cá e diz " a bichona vem vindo, a bichona vem vindo..."

Pronto!A rua virou rio,de um lado a outro,e quem está fora de casa não entra.Quem está dentro se esconda em algum lugar alto,uma beliche por exemplo.

"Cuidado com o pai, ele é baixinho,a água cobre . Joga o menino novinho, embrulhado na manta,para o quintal do vizinho!Vamos nós para aquele quintal, por uma escada".

Ela era avassaladora,feia, triste, cheirava mal, levava tapetes,. cadeiras, sofás, aves, bezerros,enfim,cheirava tragédia.

E a ponte,ou as pontes,ficavam cheias de gente,que ajudava a passar o tempo daqueles que só viam, mas não podiam chegar até suas casas.

A doida,a louca, terminava rapidamente seu show. Baixava água,baixava rio, sobrava lama , cheiro ruim , choro.

Mas a louca traria seus heróis das pontes! Não tinham celulares, redes sociais.Tinham no coração a enorme vontade de descer e ajudar.Para isto ficavam nas pontes.Por isto chegavam até nossas casas.Cadê as vassouras?Os rodos? Era supimpa, tamanha solidariedade.

"O saudosismo não norteia aquelas Vidas.Mas muitos de nós sabemos de alguns que estavam lá.A amizade não se solidifica aqui, mas sim nas atitudes Não existe lembrança melhor que essas, grandes abraços, grandes amigos!"

A casa secou,o barro foi embora, voltou a beleza do chão vermelho pelo uso da cera.

A lembrança maior?A sopa da minha mãe, depois de tudo limpo.O belo sorriso do meu pai,que sobrevivia à altura da água.As pessoas da ponte,parte de nosso retorno à Vida!

"Coisas de menina? Saudades, sim!Da menina que conheci, cada uma delas, irmãs.De atravessar o rio, quando a água era ainda limpa,as brincadeiras eram bacanas, nadando horas, conversando ali."

Hoje, sinto saudades de mãe,de ser mãe e fazer um café gostoso para minha Flor linda de bonita.

Mas vamos ao que viemos

"E a mulher de preto, que caiu na enchente?Cena cinematográfica,para nosso próximo"textão"!

Sororidade Contada em Prosa e Verso
Enviado por Sororidade Contada em Prosa e Verso em 20/09/2019
Código do texto: T6749276
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