Saudades de um bom papo

SAUDADES DE UM BOM PAPO

Ah! como era bom aquele tempo! Sem televisão e até mesmo quase sem rádios, a conversa era cultivada como lazer e entretenimento. Até por isso, as palavras soavam claras, sem os sons distribuídos hoje nas centenas, milhares até de aparelhos de agora. Exagero? Tá bom, mas, quando faltar energia geral, sentem e conversem para verificar o que digo!

Peço licença para recordar as inúmeras conversas que tive nas minhas férias passadas na fazenda de minha avó, no interior do meu Estado: Espírito Santo.

Fazia muito frio naquele lugar! À noite, uma grande mesa que ficava próxima do fogão de lenha, era cenário ideal para uma boa roda de conversa, sempre invariável. Afinal, era a única opção, antes de ir para a cama. Ainda mais porque uma conversa de roça era deveras convidativa em si mesma. Os “causos”, então, deixavam pasmos os que ouviam. E as mentiras fariam inveja ao escritor de novela mais renomado dos dias atuais. As histórias de fantasmas nunca ficavam de fora. E eram de arrepiar todos os pelos do corpo. As brasas resultantes da madeira que queimara antes para o jantar, mantinham o enorme bule de café sempre quentinho sobre a trempe do fogão, para deguste das iguarias que vovó mantinha sobre a mesa: bolo de fubá, biscoito de polvilho, rosca, biscoito de forno – tudo criado por suas mãos de fada!

E o terreiro enorme, sempre varrido e limpo com “vassourinhas” cortadas e amarradas num cabo (era a vassoura própria dos quintais de roça, e, acreditem, deixava o chão de terra batida “um brinco”), convidava à outra roda de conversa nas noites salpicadas de estrelas, sob a luz do luar. Conversávamos até a hora de dormir! Ali, a conversa era enriquecida por assuntos ainda mais variados, algumas vezes ornados de ensinamentos trazidos pelos mais experientes transmitidos aos mais jovens. Dentre eles, as “cobranças” feitas aos que haviam cometido falhas no transcurso do dia e mostradas como exemplos aos demais, no intuito de ensino generalizado. Não era só “conversa a toa”, o que se falava...

Como se não bastasse, para mim, ir à tardinha nas portas dos “colonos” (trabalhadores da fazenda que tinham residência fixa na periferia), era “garimpo” que eu não deixava de recolher nas “joias” que me ofereciam na sua conversa. E ainda havia o grupo dos que paravam nas “vendas de beira de estrada” (botequins), para beber da cachaça de alambique, sempre farta e forte, capaz de fazer qualquer conversa prolongar-se indefinidamente. Até quando uma sanfona ou viola incentivava a cantoria, a conversa paralela não parava um só instante.

São tempos idos e vividos... Mas saibam todos quantos desta tiverem conhecimento, que, graças a Deus, meu espírito é capaz de “viajar’’ e participar de alguns momentos nos quais os assuntos discorrem facilmente, inclusive, com opiniões que dou esporàdicamente!

Carlos JotaPê Figueiredo – Alcântara,SG – 10-12-2013