Professor e humanidade.

Leio hoje que, somente no meu Estado de São Paulo, mais de uma centena de professores é afastada por dia por transtornos mentais.

Convém ler mais uma vez essa informação e o seu significado e abrangência.

Cada professor ou professora tem milhões de exemplos a relatar, mas destacando também as vitórias do esforço sobrenatural, as condutas dignas, pertinentes de pais e alunos e também da própria direção do estabelecimento de ensino.

Também passei por isso. Tive alunos e alunas fantásticos, pessoas admiráveis, empenhadas e com desejo de evolução ética e cultural. Pessoas extraordinárias fizeram parte do meu cotidiano, justificando muito do meu esforço, das milhares de horas investidas em leituras, visitas a museus, análises de documentos históricos e que tais.

Mas também tive aqueles e aquelas que jamais desconfiaram quais as suas funções ou as minhas e dos meus pares.

Tive sempre o enorme desejo de poder indicar profissionalmente alunos meus, mas, de outros, jamais indicaria, nem com reza. Isso é infelicidade.

Mas os meus professores eu sempre admirei e ainda guardo o respeito especial, um carinho gigantesco pela maioria deles. E rezo por aqueles que sei que já passaram para o outro lado da vida.

Mas eu vivo num país que odeia professores. Temos milhões que respeitam, compreendem suas funções e desafios, mas outros tantos milhões gostam e esperam apenas o feriado do dia 15. Nos dias seguintes, e nos anteriores também, gostam de uma piada vulgar, do menosprezo e da desqualificação.

Especialmente nesse ano o dia do professor é especialmente trágico diante daquilo que estamos vivendo; a valorização do desastrs obscurantista, de um sinistro da falta de educação desprezando o ofício e os profissionais competentes da área, arrancando verbas vorazmente, desqualificando profissões consagradas.

Hoje partilho um texto do jornalista Gustavo Conde, publicado no Brasil 247, intitulado "Lula, o professor". Partilho o texto porque o mesmo tem a minha total concordância, pois Lula é um professor extraordinário, criativo, inclusivo... completo.

]Lá vai:

A elite financeira brasileira, normativizada e severamente limitada nas suas formulações teóricas de turno, viu-se encurralada por um metalúrgico que ensinou um país inteiro a pensar com a própria cabeça.

Essa elite viu um trabalhador, sem o estudo formal, tornar-se o maior realizador de políticas para a ampliação do... Estudo formal (pode parecer paradoxal, mas não é).

Essa elite viu um torneiro-mecânico abrir uma fenda sutil na estrutura das democracias capitalistas e introduzir um elemento novo na discussão macroeconômica: o ser humano.

Essa elite viu um sindicalista ser o responsável pela maior expansão econômica de um país continental, associada à inclusão social e distribuição de renda – sem afetar os lucros dos bancos e dos grandes empresários.

Ora, diriam uns, por que esse ‘gênio’ da macroeconomia e inclusão social não taxou, então, esses ganhos estratosféricos do empresariado? Porque ele é mais gênio do que essa significação rasteira de ‘genialidade’, oriunda da semântica prejudicada de nossa elite, intelectualmente inerte de tão bem alimentada.

A resposta é: se se erodisse um milímetro o lucro desses empresários subdesenvolvidos, todo o processo de inclusão social, distribuição de renda e acúmulo soberano de capital estaria comprometido (eles são vingativos, como a história recente confirmou).

A genialidade de Lula atende pelo nome de ‘pacifismo’. Sem a domesticação do estudo formal, ele pôde ousar e impor uma lógica espontânea, intuitiva e consistente de orquestração gerencial (lembrando que a intuição não acontece se seu portador não estiver conectado às realidades sociais de turno).

Lula sempre foi e continua sendo o ‘novo’, a possibilidade real de se produzir sínteses virtuosas de maneira incessante, sobretudo por ele não ser um ente político que perambula dentro da caixinha infame do bom comportamento elitista.

No primeiro segundo que a tradução corrente das novas tecnologias de comunicação e produção de texto chegarem ao conhecimento de Lula, ele formulará uma nova política de inclusão, desta vez, não mais meramente social, mas sim ‘operacional’, para que cidadãos-usuários de rede usem todo o seu potencial para gerar riqueza e soberania.

Lula é um gerador nato de riqueza e soberania. Antes mesmo das redes sociais, ele sintetizou e vocalizou a voz de milhões em seu discurso, na forma e no conteúdo. Sua palavra reverbera não porque ele tem seguidores, mas porque sua voz é forjada no tecido mesmo da coletividade social em todo o seu espectro polifônico.

Por isso Lula viaja o país sem parar, por isso Lula conversa com todos sem cessar, por isso Lula resistiu a todos os golpes que lhe tentaram impingir.

Por isso, ele é o preso político mais importante do planeta e da história: porque essa prisão significa a resistência a novas práticas políticas que varrem os nichos autoproclamados e privilegiados de poder e, ainda, instalam o protagonismo insinuante e afetuoso do povo soberano.

Lula mostrou ao mundo o que, de fato, é democracia, em um momento, talvez, em que o próprio mundo não estivesse preparado para receber essa lição – o Brasil, nem se fala.

É por isso que o processo de libertação de Lula é o processo de libertação de todos nós, dessas amarras que nos empurram de volta para um passado violento, excludente e individualista.

Lula nos deu a liberdade em um momento em que não estávamos preparados para ela. Agora, ele nos oferece a possibilidade de liberdade plena, uma vez que poderemos nos libertar em conjunto: ele de uma pena injusta e nós, de um aprisionamento atávico, estrutural, classista e intelectual.

Não há parâmetros para a monumentalidade subscrita na biografia de Lula. Ela transborda humanidade por todos os poros, por todas as reentrâncias, por todas as imperfeições.

Lula é o maior professor da história deste país. Ele nos ensinou a ser gente.

Vera Moratta e Gustavo Conde
Enviado por Vera Moratta em 15/10/2019
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