Em cartaz desde o início de agosto no Teatro Safra a peça Frida y Diego narra a vida do casal de pintores mexicanos, marcada por turbulentos episódios pessoais e públicos. A mensagem sobre o conteúdo de vida do casal emociona, carregado de promiscuidade e crises em todas as direções (no lado público e privado). Toda a composição que existe além deste motivo biográfico também emociona: os figurinos luxuosos de Frida, enfeitados com tons vermelhos e azuis, destacados dos predominantes tons pastéis do cenário; a atmosfera musical apaixonante, criada desde o início da sessão, soando e reanimando a platéia a cada intervalo de cena; a interpretação ousada, com pitadas de sensualidade da atriz Leona Cavalli (Frida); as tiradas cômicas, enfim, todo o enredo e a produção é envolvente.
     Além do deslumbre, o espectador poderá se deparar com temas recorrentes nas cenas que pertencem a um segundo plano de contemplação no roteiro, mas são o primeiro tópico na pauta dos debates públicos no Brasil. Temos a figura de Diego Rivera, que foi um muralista mundialmente renomado, o grande amor de Frida e, militante comunista, este foi um dos títulos retratando o artista, que demonstrou certa recorrência nos diálogos das personagens – o militante acusado de traição pelo movimento.
     Outras facetas que caracterizam Diego são as de militante sem convicções, dúbio na defesa dos ideais de um movimento, mas agressivo ao proteger sua imagem, discursando, até mesmo armado (literalmente em cena). Junto desses elementos há outros que permitem estabelecer paralelos entre os fatos vivenciados pelas personagens e as discussões sobre a crise política no Brasil.
     A reflexão apreendida a partir da caracterização de Diego é uma das camadas de interpretações. Sem dúvida existem outras mais profundas, mais polêmicas e até mesmo filosóficas. Sim! É possível pinçar outras reflexões muitas outras sobre as personagens, cuja proeminência artística revela tanto a complexidade de seus gênios, quanto a do momento histórico que viveram e a do momento histórico que vivemos.


(agosto/2015)