COISAS DE CRIANÇA!

Pedro era uma criança muito inteligente e peralta, estava sempre atento a tudo e a todos, nada escapava a seu olhar: uma tia namorando atrás da árvore, os tios preparando a churrasqueira, a mãe preparando algo na cozinha, o pai assando uns restinhos de milho e uns comendo e outros bebendo algo. O tempo era junino e no céu estouravam dezenas de fogos de artifício, o ar exalava um odor de fumaça e respiravam todos o oxigênio da mais pura alegria.

Não demorou muito, lá estava Pedrinho, imitando seu pai, junto à fogueira; de cócoras, ao lado de brasas, assava duas espigas de milho numa concentração excessivamente adulta. Dentro de seus olhinhos as chamas ardentes dançavam alegremente, festejando aquele instante tão único.

Mesmo tendo acabado de completar seus três aninhos de vida seus cuidados para com o cereal que dourava demonstravam um amadurecimento fora do comum. Virava de tempos em tempos os milhos e quando acreditou que estivessem “no ponto”, retirou-os com cuidado e os colocou dentro de um prato. Todo o seu entusiasmo parecia dizer: “Consegui! Agora é só comer”.

Com bastante cautela dirigiu-se a uma de suas tias e disse:

- Tia, assei dois milhos, um é meu e outro é pra você. – ele havia percebido que na casa, aquela tia tinha sido a única que não tinha saboreado ainda alguns caroços daquela iguaria.

- Obrigada. – disse a tia – O meu é esse?

Como ela apontara para o maior e já ia pegando-o, Pedrinho respondeu rapidamente:

- Não, o pequeno...

Antes mesmo de questionarem o porquê daquela aparente atitude egoísta, o pequenino homem emendou sem pestanejar:

- A tia já é grande, então tem que comer o pequeno...

Todos em volta acharam graça daquela notável justificativa. Afinal de contas havia muito sentido no que dizia, quem estava em fase crescimento era ele, e para tanto, deveria ele sim, comer a maior espiga.

Ah, crianças! É observando o agir infante de cada uma delas que a cada dia percebo-me adulto. E como envelheci! Tenho vinte e sete anos e mais pareço um decrépito jovem, privando-me de momentos tão simplórios, mas que dizem muito ou tudo da vida e, me pego sim, fazendo coisas ilógicas: alimentando ressentimentos, privando-me até do sorrir... Quando deveria ser o contrário.

04 de julho de 2006

Luciano do Carmo Tavares

Ducarmo
Enviado por Ducarmo em 03/10/2007
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