Bens silenciosos

Está cada vez mais complicado viver nesse mundo. O clima de insegurança e de guerra é uma vertente em nossa sociedade. Nos casos dos mais pobres, muito se fala que tudo isso é resultado da ineficiência do sistema econômico, educacional, jurídico e político. Já quando se trata daqueles ditos desenvolvidos, afirma-se que esse quadro é decorrente das disputas pela tão sonhada hegemonia plena e absoluta, o chamado “neoimperialismo destrutivo”. Quem faz tais afirmações não está de um todo errado, porém, em minhas concepções, esse conceito pode ser aprimorado, uma vez que considero ser o poder da amizade a chave do problema em questão.

Não quero, aqui, impor meu ponto de vista, por isso não farei nenhuma conclusão. Você, caro leitor, que dará o tom do texto. Jogarei no papel várias idéias, aparentemente desconexas, para que você formule sua tese, ou sua antítese, ou sua síntese, ou seu ciclo dialético completo, ou seja, a lógica da aparência kantiana.

Imagine a sua vida se, quando uma imensa dor física ou emocional abalasse sua estabilidade, você não pudesse falar com ninguém. Perceba como é agradável sofrer sozinho. Sabe naqueles momentos em que pensamos ser as piores pessoas do mundo, sem valor algum, sem simpatia nenhuma? Pois é, nessas horas você terá de ficar abandonado, escondido nas profundezas de suas amarguras, emaranhado nas teias depressivas de sua alma. Se você pudesse fazer um pedido, com certeza pediria alguém. Porém fique calmo. Sei que a solidão existencial está fazendo surgir uma intensa vontade de gritar, de fugir. Não pense, contudo, que isso é a solução. Isso é seu pesadelo materializado, isso é sua realidade onírica, isso é você. Vejo em seus olhos o medo, a angústia. Não entendo, todavia, o motivo. Por quê? Por quem? Para quem? Você não tem vida, apenas sobrevive. Você não tem amigos, apenas sonha. Como, então, pretende ser feliz? Será que não percebeu e rejeição do mundo perante sua companhia?

Está triste? Relaxe. Olhe para o lado e veja que nada disso é verdade. Você tem excelentes amizades. Falei tudo aquilo para mostrar o que, às vezes, é esquecido. Você não valoriza seus amigos da maneira que eles merecem. Qual a última vez que você disse “Eu te amo” para um amigo? Pensa que isso é besteira? Amor não é exclusivo para as relações inter-sexuais; o amor é a marca característica da existência humana na Terra, ou pelo menos deveria ser.

Pequenas atitudes podem mudar o mundo. Sentir-se uma pessoa querida, uma pessoa admirada, uma pessoa amada serve como um fator contra a depressão, o ódio, a guerra. Na história, a partir do momento em que um amigo colocou um outro em segundo plano, deu-se início aos maiores males da humanidade: a discórdia, a inveja e a ganância.

Adotar uma postura onipresente em relação aos nossos amigos é um bom caminho para amenizar o nosso quadro mundial; não no tocante à esfera econômica, e sim em relação ao âmbito humanístico. Amantes viram amigos, amigos viram amantes, amigos viram inimigos, inimigos viram amigos. Esse imbróglio comportamental é a alma da convivência humana. A raiva é um sentimento que até pode ser aceito em alguns momentos de extrema fugacidade, porém a indiferença a um amigo é inaceitável. A solução é agregar? Você responde.

Sérgio Reiss
Enviado por Sérgio Reiss em 04/10/2007
Código do texto: T680372
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