NA ARGILA DO TEMPO


                  (DAS LEMBRANÇAS DO FACE)

  (PS.Só lembrando que as chamas o consumiram em 2015)

19 de dezembro de 2014 às 23:46 ·
Meus pés meninos pisaram esta estradinha tantas e tantas vezes.
As casinholas tinham vida!
Das janelas vazavam sonoridade,odores...Semblantes que tão bem conhecia e êles à mim.
Haviam apitos,agitos,gente que ia e vinha,varais feitos pombais em brancos abanos.
Eu subia e descia a ladeira carregado de meus sonhos de piá de subúrbio.
Morava um tanto distante dali.Ninguém de minha família trabalhava naquela olaria,mas eu "batia o ponto" diariamente no local.
O pomar de nossa casa era generoso nas mais variadas espécies frutíferas e a mim,cabia a incumbência de mercador.
O caminho até lá era longo.A mata derramava-se em frescor pela estrada de chão e silêncios entrecortados de gorjeios agiam na cumplicidade de meus ideais pueris.
Restam ainda entre nós,alguns exemplares humanos daquela época e quando a vida promove nossos reencontros,lembranças e saudades são inevitáveis.
Apitam em nosso peito as chaminés das "eras".
[Destas "eras" que costumam ser implacáveis senhoras da razão.]
Por vezes refaço o mesmo caminho (hoje tão mudado) e nos silêncios de
tardes ou em frescores matinais,estático diante da paisagem quase devastada,ponho-me na busca inquietante daquilo que fui,daquilo que sonhei e a realidade daquilo que agora sou.
Satisfaço-me, então, na certeza de que em algum lugar no interior daquele pavilhão enorme,meus passos criança ficaram moldados na argila do tempo.


               Joel  Gomes  Teixeira