Diguim. Diguim!

Crônica para Amigo e quase filho.

Em 2004 quando ele chegou era um “pelotinho de pelos marrons”, chorava muito nos seus primeiros dias, e eu que nunca tivera um cãozinho fiquei confuso, mas com o passar do tempo foi formando seu jeito e ao meu entender parece que entende tudo, só falta falar. Mas a gente se entende com um olhar.

Um poeta foi feliz ao cantar o sorriso num latido a porta da sala ou portão, e eu acrescento mais seus pulos, todo ofegante em minhas pernas. Em vários cantinhos da casa estão seus lugares preferidos, seja perto da cortina, ou até uma pequena sobra do meu cobertor no inverno. Também gosta da soneca no quarto. Tem o ritual de me olhar, e sem dizer nada pelas manhãs, mantém seu hábito de me esperar abrir a porta da cozinha com acesso ao quintal para fazer seu ‘pipi’. Tem gente que fica brava, quando ele faz xixi no sofá. Mas eu o defendo.

Ah! Tem o barulho do abrir embalagens, o agudo do talher batendo no prato, basta apenas esperar alguns segundos e já aparece aos pés da mesa a esperar um pedacinho de qualquer comida. Me chantageia ingenuamente com o olhar. Fica ‘bravinho’ quando ouve (dá um "pedacim pra mim"). Responde Graaarrrrr. Mas divide com passarinhos que vez ou outra bicam seu pratinho de ração e água.

Estamos sempre viajando, curtimos juntos os mares, no real ou nos sonhos daqueles azuis. Hoje já meio abatido pelo tempo, poucos pelos, pelo frágil corpinho já não desperta tanta atenção por onde passamos no calçadão, até ouvi uma pessoa dizer frases depreciativas, mas pra mim é tudo bobagem, é o mesmo menino de sempre. Parece um filho.

Só agora me caiu a ficha, pois deste lugar de onde escrevo há mais de onze anos os textos para o jornal que trabalho, ele cá está, e sempre por muitas e muitas vezes a me olhar e por fim decide deitar-se aos meus pés.

Melhor finalizar e parar de escrever essa pequena crônica em sua homenagem, pois essas letras por vezes brilham, embaçam, parecem lágrimas nos olhos. Por fim, em momentos sozinho aqui nestes dias de chuvas de janeiro de 2016, escrevo pela sua querida amizade e lealdade, pois muito além do amor me oferece e me dá...sem nada pedir, bem diferente de muitos humanos.

Aqui em casa dizem que ele morreu, eu acho que não...Diguim, Diguim, Diguinnnnn. Cadê você? Está demorando...

Janeiro de 2016.