CENAS COTIDIANAS: O RAPAZ DO SALGADINHO

Entro no ônibus, sento e sigo viagem. Nisso um rapaz sentado paralelo a mim come um salgadinho Fofura. Do nada ele se direciona a uma moça sentada a minha frente. "Você quer? Minha mãe diz que é educado oferecer". Ela recusa.

Oferece a outros, gente na frente dele, atrás e atrás de mim e também pra alguns que passavam a catraca.

Todos recusam. Alguns cochicham resmungo de xingamento, outros olham torto. Incomodados por receber uma gentileza.

Devo acrescentar que o rapaz, uns 25 anos acho que estava visivelmente alterado. Bebida? Droga? Não sei. E era um rapaz negro com dreds no cabelo (isso não deveria, mas sei que muda a percepção da cena para alguns).

Eu observava tudo e por último ofereceu o salgadinho a mim. Eu prontamente aceitei. Seria uma desfeita recusar uma gentileza. O rapaz sorri satisfeito e diz alto para os passageiros ao redor: Ele sabe que não uso maconha. (interpretei como um atestado de confissão. Sim, ele tinha usado). Mas isso em nada diminui a gentileza a meu ver.

Depois disso de tempos em tempos insistia pra que eu pegasse mais, pra ajudar ele a comer, segundo ele. E passou o resto da viagem me apontando e dizendo pros demais que eu era um cara legal.

Eu sem graça, mas sei que tenho "imã pra gente doida". Como dizem, aceita que dói menos....😂

Sou legal? Não. O meu diferencial foi aceitar uma gentileza sem ter preconceitos, racismo ou discriminar um homem alterado. Deveria ser a praxe de todos. Infelizmente não é.

(Publicado originalmente no Facebook em 13/01/2020)