MALAS E MALAS

MALAS E MALAS

Mala quase todo mundo tem. Principalmente quem gosta de viajar. É interessante observá-las nas esteiras dos aeroportos. Tem de todo jeito. Grandes, pequenas, coloridas, leves, pesadas, feias, bonitas, novas e velhas. Embora as de rodinhas predominem ainda se vê algumas sem essa opção tão útil. Antigamente elas eram de couro, depois apareceu o modelo de pano e agora a moda é de um material rígido. Ainda existe as que tem segredo em lugar de chave. Tudo vai se modernizando.

A mala sem alça só se usa em sentido figurado. É um dito popular para se referir a uma pessoa chata, porque se já é muito incomodo carregar uma mala, imagine se ela não tem rodinhas e nem uma alça para arrastá-la. As rodinhas são uma invenção do ano de 1970 uma ideia do americano Bernard Sadow, dono de uma fábrica de malas e casacos dos Estados Unidos. Uma invenção maravilhosa, mas que teve o lado negativo porque os carregadores que ficavam nas rodoviárias e aeroporto perderam seus trocados.

Mala também é uma palavra usada para designar uma pessoa sem caráter, malandra, esperta. O certo é que a mala é uma coisa que todo mundo precisa. Quanto mais longa for a viagem, mas necessário ela é. Feliz de quem chega ao seu destino junto com sua mala. Muitos não despachavam com medo de perdê-la, mas agora serão obrigados em virtude das exigências das companhias aérea que limitam peso e tamanho para levá-las consigo.

De tanto falar em mala lembrei de um caso interessante. Quando os avós de minha amiga faleceram seus pertences foram divididos entre os filhos. A casa estava cheia de coisas valiosas. Louças finas, peças antigas de cristal, cadeiras de vime, móveis de madeira trabalhados e cada qual ia separando o que lhe interessava. É claro que houve conflitos nessa divisão, todo mundo querendo aquilo que fosse mais precioso. Tiveram que fazer sorteio para não haver injustiça. A única pessoa que não criou encrenca foi a sua tia Marly. Ela disse: podem brigar e se entender por aí, eu fico de fora. Se ninguém se opor eu só quero aquela mala velha que está ali no canto.

Ninguém contestou. A mala era sem alça, não tinha rodinha, se era de couro já nem parecia de tão velha. Muita pesada e não tinha nada dentro. Tia Marly dizia que o peso era de uma armação de madeira que estava coberta pelo forro de uma chita estampada já bastante desbotada pelo passar dos anos. Todos saíram com seus pertences. Tudo de grande valor por se tratar de coisas antigas. Apenas a mala que parecia mais um baú não tinha preço. Além de velha, rasgada era feia. Por que tia Marly abdicou de tudo para ficar só com essa herança sem futuro? Essa era a indagação de todos.

Difícil mesmo foi levá-la para casa. Três homens foram necessários para carregar o trambolho grande, pesado, que parecia mais lixo. Ele foi aberto pelos herdeiros para verificar se não tinha nada dentro. Só encontraram cheiro de mofo e nada mais.

Tia Marly mandou trocar o forro da mala. Colocou nova fechadura, poliu os enfeites de metal, mandou fazer uns pés de madeira e deixou aberta no canto da sala como depósito de revista. Ficou bonito, mas ela ao invés de ganhar dinheiro com a herança ela fez foi gastar para deixar a mala naquela belezura. Para justificar tal atitude diziam que sua escolha foi influenciada pelo fator afetivo. Que fosse!

O certo é depois que adquiriu essa mala sem alça a Tia Marly ficou mais bonita, mais vaidosa, passou a participar de festas, comprou roupas novas, joias, adquiriu até uma casa melhor e um carro novo. Será que essa herança trouxe sorte para a tia?

Dizem os investigadores que tia Marly foi esperta na escolha. Ela tinha conhecimento desse pertence de seus pais e de seus segredos. Antes dos velhos morrerem ela viu um comentando com outro sobre o que estava guardado no forro da mala velha. Simplesmente moedas de ouro. Tia Marly negava o fato quando se tocava no assunto. Dizia que trocou o forro porque estava velho, mas não tinha nada dentro do baú. E fica a interrogação. Mas, ela ficou rica como? Se não existia as moedas de ouro ninguém sabe como foi esse milagre.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 19/02/2020
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