Antes da internet / Depois da internet

O lugar onde vivo não é uma cidade grande, mas é bem aconchegante e tranquilo. Tem uma arquitetura especial. Foi desenhado por uma mão muito habilidosa. É um balneário incomparável de beleza.

No passado, contam meus pais que as pessoas aproveitavam, valorizavam e se divertiam mais, por aqui. Hoje o que vejo é que se tornou um lugar comum, como qualquer outro.

O progresso chega, a tecnologia é boa para o crescimento local, mas é preciso ponderar, porque traz também muitas mazelas. Vou à escola e lá observo da porta muitos adolescentes, todos meus amigos e conhecidos. Eles carregam em suas mãos um celular, não esquecem nem por um só momento dessa máquina. Com ela, eles têm acesso ao mundo. Antes da entrada, tiram fotos, compartilham arquivos, guardam muitas informações na memória, quase não conversam uns com os outros.

Com toda essa interação virtual, será que estudam mesmo? Não adianta ter tanta informação nas mãos, mas não guardar nenhuma na mente. Chega o fim da última aula. Alguns que não moram aqui vão de ônibus escolar fornecido pela prefeitura. Aqueles que moram aqui podem sair e ir a pé para casa, é perto. Eu passo pela beira da praia. É verão. A prefeitura coloca internet gratuita na orla. Os alunos não vão embora, contudo, ficam ao longo da praia juntos, de celular na mão, vendo sabe lá Deus o quê, rindo, apontando para a tela e se deleitando numa alegria sem fim. O que esperar dessa geração. O tempo é nosso maior inimigo. Alguns dizer que essa é a geração perdida. Prefiro se otimista, pensar que ainda existe solução.

Gosto também da internet e daquilo de bom que proporciona, entretanto, ah! Que saudade de quando eu era pequena! Juntava todas as crianças do bairro para brincarem, contava histórias de terror, todo dia era banho de mar. Era uma aventura. Mas fomos crescendo, as redes sociais entraram nas nossas vidas e, então, nos separamos.

Não me vejo aqui no futuro, mas espero levar meus filhos para verem o lugar onde eu cresci.

Quem sabe daqui a alguns anos eu posso escrever sobre esse lugar de novo e falar do que mudou... Quem sou eu para falar, só o tempo dirá. O amanhã não pertence a nós.

Leandro Freitas Menezes