BOLHAS DE SABÃO

BOLHAS DE SABÃO

Depois do 2º divórcio e o fato de estar só, também me ajudaram bastante a meditar sobre o assunto, e cheguei a uma conclusão.

Relacionamentos bem sucedidos são aqueles em que há divertimento, onde as palavras são uma dança, onde ambos treinam os passos todos os dias, mas por acaso quando um pisa no pé do outro, isso não é motivo para raiva ou ressentimento, não...É motivo para riso e muito mais diálogo.

Lembro de um trecho de Nietzche que li a alguns anos e anotei em minha agenda, e o renovo todos os anos na primeira página das novas agendas: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta:´´ Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?´´ Tudo o mais no casamento é transitório. Mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar."

Como na estória das Mil e Uma Noites, sabemos que as relações baseadas nos prazeres da cama são sempre decapitadas na madrugada. Por isso Xerazade ressuscitava o amor do sultão pela magia da palavra, ele a ouvia como se ouvisse música, e as palavras são isso mesmo, música... É a sexualidade eternizada pelo som de uma conversa tranqüila, uma dança incansável que gira pelo salão com graça e desenvoltura.

Ao contrário do que pensam os amantes inexperientes, ficar repetindo "Eu te amo" não significa o amor em si absolutamente, depois da primeira confirmação, essa frase já não quer dizer mais nada...Nossa verdadeira nudez não tem nada a ver com anatomia, a não ser é claro, quando falamos de pessoas superficiais, nossa alma só se despe através da poesia de nossas palavras, da nossa capacidade de nos comunicarmos afetivamente.

Essa capacidade é como um jogo divertido e não competitivo, na competição repetimos com freqüência o termo "cortada" que revela por si que o objetivo é se sobrepor ao "adversário", descobrir no outro o ponto fraco e assim colocá-lo fora do jogo.

Na diversão, quando recebemos a "bola" atravessada fazemos o maior esforço para devolvê-la gostosa, não existe adversário, e assim os dois ganham sempre pois há reciprocidade, existe amizade, não apenas instintos eróticos e apelos sensuais.

Conversar é trocar sonhos, um gostoso ir e vir...Não usar os sonhos do outro para transformá-los em facas que vão sendo afiadas nas decepções, nos rancores.

Os sonhos são como bolhas de sabão, um brinquedo frágil pois foi criado pelo nosso coração, e se estamos trocando sonhos, então os nossos também estão em jogo!

Um relacionamento baseado na intimidade verbal é composto de dois bons ouvintes, que ao falarem abrem espaço para que as bolhas de sabão do outro possam voar, e assim a dança das palavras não termina nunca, vai só sendo aprimorada.

JUNO
Enviado por JUNO em 10/10/2007
Reeditado em 22/10/2007
Código do texto: T688156