Minutos na estrada

O acidente ocorreu numa destas rodovias que ligam a cidade de São Paulo a todos os outros lugares (ou será o contrário?), no interior do estado. O motorista, ao inverso de seu caminhão, não feriu-se gravemente; a carga, ignaro, não fazia idéia que o destino é demasiado atroz. Neste caso, sempre.

Algumas ficaram presas nas caixas (mesmo com a queda) e não entenderam sua missão, as galinhas. Outras, inocentes, ciscavam na direção da massa faminta e já salivando, marginal ao desastre e à fome...

O proprietário dos animais, em gesto peremptório, liberou a "coleta" das aves por parte dos homens, mulheres e crianças que aguardavam (ansiosamente) a positiva do Guarda rodoviário. Uns amontoaram a galinhada em sacos enormes, outros, carregavam com a ajuda apenas das mãos; Houve até quem transformasse o porta-mala do carro em poleiro provisório. Decerto fartaram-se na ceia.

Galinhas não sabem voar...

É bicho alado e sem benefício em ser? Voariam para longe daquela estrada se pudessem usar melhor suas asas? Ou talvez escolheram ficar para cumprir seu fatídico papel no benfazejo de seu nobre ato. Ignorante, mas nobre. O fato é que foram livres na ausência do chefe de frete e, por alguns minutos, puderam flanar ao lado da rodovia e asfalto quente; Por alguns minutos, talvez, souberam o porquê de não voar.

Douglas Oliveira
Enviado por Douglas Oliveira em 10/10/2007
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