Culturalmente Neandertais

Confesso, desde já, que me incomoda bastante essa atitude de alguns Neandertais (homem ou mulher, sem discriminação de gênero) em desconsiderar o direito individual em se ofender com os tratos sociais (ou seriam maus tratos) por conta das diferenças entre indivíduos.

Não quero, aqui, criticar os(as) camaradas mal-intencionados que discriminam por algum tipo de prazer inexplicável. Não gasto tempo com esses (seria em vão). Eles são sua própria crítica, pois seus comportamentos falam por si só.

Mas existe, ainda, uma camada social, que eu trato, aqui, como Neandertais, não por xingamento, mas no exato sentido de atrasados no tempo, ou coexistindo pautados em conceito de outros tempos, inseridos em uma cultura retardada (no sentido de atrasada, não evoluída em relação ao tempo atual, por favor, me endenta, novamente não se trata de xingamento). Com estes gasto um tempinho, e até debato com os(as) tais, em parte (mas não somente por isto, é claro) pois a situação é apenas atraso, há sempre a possibilidade de se atualizar culturalmente no tempo, e pretendo contribuir, de alguma forma, para isso em alguns desses, nem que seja os provocando (no sentido de irritá-los mesmo) para gerar algum tipo de reflexão, mesmo que mínima.

Pois bem, num desses meus momentos de me intrometer na conversa coletiva, lançada a todos na sala, acabei entrando em um debate (coisa da qual gosto muitíssimo) com um colega de trabalho. Não era a primeira vez que tínhamos esse tipo de debate. O assunto, dessa vez, era sobre o Ceará ser Nordeste e não Norte, como costumam alguns chamar, por necessidade de roteirização ou por pura ignorância mesmo. Provocação vai, provocação vem e eu a criticar a ignorância e corrigir a nomenclatura da necessidade (pois não se trata de região Norte de Brasil, mas de roteirização Norte particular de um grupo específico).

Argumento vai, argumento vem e acabei tendo que ouvir (é o preço de entrar, deliberadamente, em um debate) que a nomenclatura do governo federal de Nordeste era achômetro. Nesse momento, decidi contra-argumentar criticando que o aprendizado sobre Geografia do estado desse indivíduo, mais especificamente, sobre as Regiões do País, era pobre e deficitário se comparada ao nível no Nordeste.

Para que falei isto. Ele se doeu, disse que era achismo meus, não havia diferença de aprendizado entre estados, segundo ele. Rebati que eram fatos, pois já havia estudado nos dois eixos e conhecia a realidade, também já havia pesquisado o assunto. Quando não lhe restaram mais argumentos sobre o assunto, apelou para seu entendimento preferido (ele já o havia usado contra mim antes, numa situação onde confessei estar ofendida por ter sido tratada com racismo em uma outra situação... ficou confuso, neh? rsrsr... não vou contar o que aconteceu): era tudo mimimi. Se ele, palavras dele, acusasse o meu estado de não ter algo que o dele tivesse eu não aceitaria. E continuou na conversa de mimimi.

Ora, vejamos bem: primeiro que se você se ofende, na teoria ignorante e Neandertal do mimimi, isso já é, por si só, o próprio mimimi em pessoa. A situação tende a piorar, porque já houve uma situação na equipe que que ele se sentiu (e com razão) desprezado e tratado com diferença por ter uma característica específica e não comum com relação aos outros. Isto seria mimimi também? A essa altura, toda a sala, até então apenas expectadora, soltava comentários para desviar o assunto e encerrar a discussão, que embora se mantivesse num tom amigável, dava sombras assustadoras de guerra.

Claro que não perguntei isto a ele, nem lhe lembrei deste fato, seria falta de humanidade da minha parte. Não diretamente. Apenas ri e expliquei que meu riso era porque já o tinha visto de mimimi antes.

Por fim, meu riso encerrou a conversa, não antes de eu jogar-lhe na cara (coisa feia que fiz, confesso) que se a situação o ofendesse não seria mimimi e a ofensa seria justa, mas se ofendesse a outro, então ele a trataria como mimimi, sem demonstrar compaixão.

No final das contas, somos todos individualistas e Neandertais, atualizados na cultura ou não. Isto é um fato.

Marta Almeida: 18/03/2020