SENTOU NO RAMENZONI

(imagem  do  google)

Meu pai não era um sujeito muito vaidoso.Por vezes minha mãe precisava armar um fuzuê para que ele provasse a camisa nova que ela havia escolhido numa das filiais da “Arthur Lundgren Tecidos”- Casas `Pernambucanas para os mais íntimos.
Assim que conseguia seu intento, ficava feliz ao ve-lo mirar-se no espelho abotoando a dita cuja.
-Ficou linda !
Ouvi inúmeras vezes esta frase de estímulo proferida pela esposa do desleixado, que logo em seguida enfiava-se em suas surradas vestimentas.
Porém, (há sempre um porém) era ele extremamente vaidoso na escolha de chapéus.Não os tirava da cabeça.
Haviam aqueles que lhes vestiam durante o trabalho, e sempre uma caixa sobre o guarda roupas com um exemplar nos trinques – sempre bem escovado – usado em ocasiões especiais.
Era cuidadoso ao extremo e tinha um certo ciúme quando alguém o manuseava sem o seu consentimento.
Lembro-me da caixa redonda com bela estampa onde repousava um “Dante Ramenzoni”, cinza, impecável que só saía dali para alguns eventos por ele considerados importantes.
Numa daquelas noites no início dos anos 60, preparávamos para fazer uma visita a um casal de compadres à quem ele queria muito bem.
Desta vez ele caprichou no visual e chegou até a besuntar-se com óleo Dirce nos cabelos.
[ Quem conheceu esta relíquia,pode testemunhar a delícia de perfume contida naquele modesto frasquinho que estampava na etiqueta, uma moça com um bouquet de flores nos braços ] Paletó ,camisa nova e todo cheirosão, retirou da caixa o chapéu de  passeio e o ajeitou na cabeça.
Mergulhados na noite, não demorou e estávamos no portão da casa dos compadres.
Receberam-nos numa sala ampla, com móveis modestos,num ambiente aconchegante pouco iluminado à luz do lampião.
Cuidadosamente o chapéu fora depositado numa cadeira ao lado daquela em que papai havia sentado.
A conversa rolava animada e a dona da casa, de origem árabe, que fazia uns charutinhos deliciosos enrolados em folhas de parreira foi servindo às visitas até que o café – que já incensava o ambiente – acabasse de ser coado.
Extremamente falante, meio inconveniente, a filha caçula do casal metia-se nos assuntos, dava seus palpites e empanturrava-se de charutos.
Papai que estava todo animado, de repente foi ficando meio calado e logo nos convidou a retornarmos pra casa.
No meio do caminho mamãe quis saber a razão da súbita mudança.
Ele,que tinha um xodó pelos seus chapéus de passeio,explica-lhe segurando nas mãos aquela coisa shuringada:
-Veja o que aquela gordinha destrambelhada fez comigo Entupida de charutos, a nojentinha atirou-se na cadeira e sentou no meu Ramenzoni.
Mamãe caiu na gargalhada.
Papai não achou a menor graça.
O Ramenzoni jamais foi o mesmo.A proxima aquisição foi um “Prada” de cor escura.