Quarentena, um mal necessário.

Ficar de quarentena em uma pequena cidade do sertão nordestino, parece bem mais fácil. Evitar aglomerações não é difícil, se você não vai a uma lotérica, um mercado, a uma Unidade Básica de Saúde e a meia dúzia de bares, as três academias que tem na cidade e as escolas estão fechadas, pronto, a cidade já parou. Mas ser obrigado a ficar dentro de casa, não é bom em parte alguma, nem aqui nem no Japão e principalmente por aqui, que somos mais livres, que saímos a qualquer hora do dia ou da noite sem maiores preocupações e de repente somos induzidos a ficar em casa, perder esta liberdade que tanto nos orgulhamos.

Chegamos às vezes até pensar que estamos muito longe, que não nos atingirá. Infelizmente não é assim, está tudo globalizado, inclusive as doenças. Se não nos cuidarmos, não nos isolarmos socialmente, chegará, e rápido.

E o que mais mexe com a gente, com nosso psicológico é a certeza de que este isolamento é realmente necessário, é esta certeza que nos assusta. Na verdade, tudo tem me assustado. Um enorme medo por mim, por minhas filhas, meus pais, meu esposo motorista de ambulância que vive correndo riscos… O mundo está doente e é preciso que nos enclausuremos para que ele de alguma forma sare ou que este mal pelo menos abrande até que chegue até nós.

Vivemos ansiando por tempo livre, querendo estarmos livres de tantas obrigações cotidianas, tempo pra isso e pra aquilo. E agora que temos este tempo, não nos sentimos à vontade com ele, porque o temos livre mas não temos liberdade.

Às vezes, em nossas férias preferimos ficar dentro de casa pondo a nossa vida em ordem mas, agora isso não nos é agradável, pois nosso psicológico parece não aceitar. Talvez porque ninguém seja uma ilha, porque a nossa vida depende de tudo que acontece lá fora. Se estivéssemos parados e a vida lá fora estivesse a todo vapor, estar em casa seria tranquilo.

Estranhamente quando estamos refugiados em nossas casas e em nós mesmo não nos encontramos, as coisas parece tudo fora do lugar, até mesmo nossos sentimentos. Nos sentimos meio que perdidos, sem saber o que fazer, aonde ir, como agir.

Ontem estava olhando a lua, e até ela me parecia melancólica, pareceu- me que também sentia as dores do mundo, tentei escrever e não consegui, porque a inspiração não me veio. E isto também é resultado da inquietude que está o meu ser e acredito que de todos que prezam pelo bem e saúde da humanidade como um todo.

A verdade é que ninguém sairá ileso desta quarentena, deste isolamento, deste período sombrio em que estamos vivendo. De uma forma ou de outra, sairemos prejudicados, ou não, se soubermos conviver da melhor forma possível com todo este cenário, se procurarmos ajudar além de nós mesmos.

Mas enquanto vamos vivendo neste terreno minado que o mundo se tornou, indo dormir torcendo para que o dia não traga notícias, pelo menos tão ruins do ontem, e que o hoje traga uma ideia genial para a cura deste vírus, também devemos nos voltarmos pra dentro de nós positivamente e nos encontrarmos com nossas forças interiores para fazer deste momento algo menos sofrido. Busquemos encontrar nossos talentos adormecidos ou aprendermos algo que tanto queríamos e nunca sobrou tempo. Conviver mais com quem podemos estar perto e valorizarmos mais quem está longe.

Se o isolamento é inevitável e é tão ruim, então é um mal necessário que devemos enfrentar pelo nosso bem e do mundo inteiro.

Virginia Santana
Enviado por Virginia Santana em 04/04/2020
Código do texto: T6906443
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.