SOPA DE TURU

SOPA DE TURU.

Estamos chegando a um período chuvoso nas terras que circundam a Linha do Equador. De fato, nesta região costuma chover todos os dias, normalmente em um período da tarde, a ponto de se marcar encontros baseado neste fenômeno meteorológico: “Nos veremos após a chuva” ou um programa de rádio chamado “Depois da Chuva”. O interessante nisto tudo é que estamos todos acostumados com isso, e que se acentua o chover, entre os meses de fevereiro, março e abril, chegando aos primeiros dias de maio.

Não sei se coincidentemente, os troncos que desabaram nos rios, próximos às casas ribeirinhas do arquipélago que rodeia Abaetetuba, no rio Marataúira, encharcados, apodrecem...

A primeira vez que tomei conhecimento do que vou contar, foi quando em expedição pelo rio, a conhecer as localidades ribeirinhas, hábitos e costumes, junto à prefeita da cidade e percebi, naquela manhã de domingo, que moradores de algumas localidades estavam dentro d’água escavando troncos apodrecidos, parte em terra seca, outras completamente molhadas.

Disseram-me que estavam a colher Turu. Parecia festa, meninos e mulheres faziam algazarra enquanto os homens com facas ou machadinhas feriam troncos velhos em busca de um mísero verme, comprido como uma minhoca, branco e quase gosmento. Cada verme achado no tronco podre era comemorado brilhantemente por todos com piadas etc. Uma festa. Em nada diferia das comemorações nas lajes das periferias no final de semana.

Entusiasmado quis me aproximar mais e pedi ao Comodoro MacLarem que aproximasse mais a “voadora” em que estávamos a navegar, quando este me perguntou como se adivinhasse a minha intenção de chegar mais perto – Sumano, já comestes turu? Respondi que não, enquanto ele tornou a perguntar – Tens coragem e raça de comer turu cru, ali naquele momento?

Então, num arremedo de arrochamento (metido a alguma coisa) falei grosso ao dizer que se aqueles homens estavam a comer, eu comeria também. A voadora se aproximou daquela família em festa e MacLarem chamou um homem que estava a cavar um tronco e conversou algo. O homem cavou uma parte podre do tronco em que trabalhava com a faca, e retirou um verme branco dele, colocou na boca e engoliu. Não me fiz de rogado, e quando me ofereceu o próximo, retirado ali na hora, fiz o mesmo, e engoli aquele verme vivo a se mexer ainda.

Não foi desta vez apenas que estive a ingerir algo inóspito, como comer Turu. Outra feita, num desses dias de chuva, abriguei-me numa birosca de esquina de uma rua da feira. Chovia muito, e distraído olhava o escorrer das águas nas pedras do calçamento. Quando um homem entra no bar e grita desde a porta --- “Bota uma cobra pra mim” e aproximou-se do balcão, onde um rapaz com uma toalha suja ao ombro, lhe serve um copo com cachaça. A garrafa tinha em meio ao líquido amarelado uma cobra colorida enrodilhada. O homem bebeu ser fazer cara feia, pagou, cuspiu no chão pelo canto da boca, ou do dente careado e saiu.

Como precisava seguir meu caminho e a chuva não parava resolvi imitar o homem que entrara e pedi uma dose da mesma bebida. Tomei sim. Parecia xarope, o líquido grosso e adocicado. Paguei e saí na chuva determinado, sem importar com o aguaceiro que voltou a cair.

Pois bem , este período chuvoso antecede uma grande festa anual da cidade o Festival de Miriti, onde muitas pessoas circulam nas ruas do centro da cidade e apreciam as iguarias da localidade, como licor de açaí ou de miriti, comem comidas exóticas, como tacacá, pupunha, maniçoba etc. com destaque para a sopa de turu, muita apreciada na região.

Uma sopa que parece água de sabão com anil e servida quente nas barracas de quermesse ao lado da igreja e nos bares do festival. Aliás é costume na cidade, no horário da manhã tomar-se sopa como lanche do meio da manhã. A sopa de turu é especialíssima...

Arthur Ghuma