Filosofia do espírito ou o espírito da filosofia

A humanidade pensa há mais de sete mil anos. Filósofos contemporâneos são raros e alguns duvidosos. De certa forma somos todos filósofos, se levarmos em consideração as palavras de Jean-Paul Sartre, referindo-se a simples observação de um copo. Mas para ser considerado filósofo é preciso construir um sistema que se pretenda responder a todas as dúvidas acerca da vida. Nietzsche (“onde a plebe bebe água o poço fica envenenado”) disse que Deus estava morto e buscava o homem Dionisíaco, o homem do meio-dia. Morreu delirando, louco. Para alguns influenciou Hitler, assim como Heidegger, que em nome de salvar os livros e a cultura, apoiou o nazismo. Shopenhauer elaborou seu sistema filosófico, para se vingar da mãe, considerada uma mulher muito inteligente, que achava o filho limitado. Descartes ficou conhecido por “eu penso, logo existo”, deitado de barriga para cima, olhando o teto e pelas coordenadas cartesianas. Libnis dizia que vivíamos no melhor dos mundos possíveis. Foi ridicularizado por Voltaire em Cândido ou o Otimismo. O que sobrou de A Crítica da Razão Pura de Kant? Sócrates e Platão (Sócrates parece mais um personagem inventado por Platão), Aristóteles, Demócrito e Heráclito pensaram e deixaram suas idéias sem serem prolixos e “herméticos”. Aristóteles nem tanto. Aqui no Brasil, sob a influência de Spinoza, Marilena Chauí construiu um sistema filosófico. Hobbes, Hurssel, Russel, Tomaz de Aquino, Santo Agostinho, Jaspers, Epicuro, Zenão, Empédocles de Agrigento todos construíram um sistema, alguns com argumentos frágeis (mas pioneiros) tentando desvendar os enigmas da humanidade. Alguns foram geniais e mostraram a luz no fim do túnel, que tentamos alcançá-la. Hegel e a dialética, que Marx disse estar de cabeça para baixo, Engels, Spinoza, e outros dignos e indignos de crédito. Não há mais filósofos, tudo já foi dito. Como disse Marx, não é mais necessário interpretar o mundo, e sim, modificá-lo. Não acredito que haja alguém contra isso. Lembrando que Marx era um filósofo, que fez uma análise demolidora da economia capitalista. Os estragos e os consertos que os modelos econômicos, os homens e as mulheres fizeram aí estão. Todos estudaram, produziram numerosos livros, para serem utilizados pelos estudantes de filosofia. Repito estudantes, pois até agora não vi nem li um livro que tenha suporte teórico capaz de contrapor os filósofos do século XVII, XVIII, XIX com novos paradigmas. A partir do século XX o pensamento filosófico definhou. Li os principais filósofos. Com interesse e reconheço a importância de todos eles no processo de evolução do pensamento humano. Atualmente, salvo honrosas exceções, não existem filósofos, repito estudantes de filosofia, o que é bom. Bons e maus estudantes, pois alguns só querem o diploma, para se apregoar filósofo. Fazem pós, doutorados, teses, monografias, essas coisas. Quando fazem, pois muitos, como sabemos e foi veiculado na mídia, compram monografias, teses de doutorados, pós-graduação por um preço pechinchado. Ou então fazem colagem através de buscas no Google. Canudo e títulos pouco valem se não estiverem acompanhados do conhecimento real. PhD, salvo honrosas exceções é lorota, belos rótulos sem conteúdo.

Quanto aos cientistas, creio, fizeram tanto ou mais pela humanidade com suas descobertas nas áreas de saúde, invenções, física, etc. Segundo Brecht, mais vale um par de botas, que mil Shakespeare, que se orientava pelo método Aristótelico. Algumas invenções trouxeram guerras, mortes, catástrofes e erigiram impérios, mas não porque queriam a maioria dos inventores. Sabin erradicou a paralisia infantil e outros cientistas descobriram a cura da turberculose, da gripe, do sarampo, da varíola, etc. Outros inventaram os meios de comunicação, graças aos inventores da roda. Aqui encerro esta breve crônica: chega de firulas, a roda já foi inventada. Feitas a exceções de praxe, o resto é narcisismo, arrogância e jogos de aparência.

Alguém pode perguntar: que papo esse? Qual a finalidade? É que às vezes encontramos nas mídias alguns “artigos” de pessoas exibindo, como Narciso, seus inumeráveis títulos, ou falando de suas viagens mundo afora. Ao chegar em casa, devem ficar diante do espelho e perguntando: “espelho, espelho meu, haverá no mundo alguém com mais títulos e mais viagens do que eu?”. São arrogantes, sofistas, o contrário dos grandes mestres, em sua maioria, pessoas simples, como o autor da Teoria da Relatividade. Como disse Camus, “só há uma questão filosófica realmente séria: é o suicídio. Saber se a vida vale a pena ser vivida”. Para isso seria importante que começássemos a pensar em resolver problemas básicos: construção de interceptores de esgotos; água tratada nas torneiras; moradias aos sem-teto; terras para os sem-terra e o fim da fome no mundo. O combate aos vírus, que são mutantes será uma luta sem fim, especialmente o vírus do egoísmo e da arrogância.

Para finalizar dou um exemplo de que não é necessário ser PhD, sociólogo ou ter qualquer curso superior, para ser capaz de melhorar a vida das pessoas: Lula. Um ex-torneiro mecânico, semianalfabeto, pobre, chegou à presidência, colocando os doutores no bolso. Ressalvo que não faz (fez) o governo dos meus sonhos, mas entrará para História como um dos melhores governantes do Brasil, para o desespero da elite tupiniquim e de parte de uma classe média pretensamente intelectual.

Obs.: esta crônica foi escrita em 2009

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