ANDO MEIO EMBURRECIDO




Sim! "Emburrecido", de saco cheio, com raiva de mim.
Explico:
São este malditos Apps que me deixam assim.Para qualquer merda, desculpem-me a expressão,há que se baixar um app para ter acesso à dita cuja.
Isso não é coisa da minha geração! Tenho dificuldade! Talvez seja mais fácil baixar-me um pai de santo em meu corpo que um destes modernos app da vida em meu celular.
Sou do tempo (Aí vocês dirão: Ain ! Que velho nhengo! e eu pacificamente concordarei com quem pensar assim) Em que você discava nos antiquíssimos telefones ou, em último caso, recorria a um orelhão (Credo!!! O que é isto??? Dirão os jovens de agora) e fazia uma compra em qualquer estado da federação.Batia um papo com o(a) vendedor(a),explicava claramente o tipo do produto desejado, era orientado sobre a possibilidade do envio de algo com a qualidade até melhor àquela solicitada, ficava amigo do(a) atendente do outro lado da linha (trocava até algumas confidências),passava o endereço, mandava um cheque pré datado e em poucos dias a Transportadora ou os Correios nos entregavam o produto.
Hoje, somos apenas um número, uma senha diante de um monitor ou esfregando as melequentas telas de celulares.
Na maioria das vezes,não conseguimos fechar um rélis pedido por conta de mensagens que nos dizem:Email ou senha inexistentes.Apesar de termos a certeza de que cadastramos ambos corretamente.
Tenho consciência de que devo reinventar-me,fazer uma releitura desta minha carcaça ultrapassada que guarda ainda lembranças dos bodegões do Irati Velho,do armazém do Stroparo, do Trento,do Cavalin, onde podia-se coçar a barriga na beirada do balcão ou empinar o bundão para espiar as brilhantinas,os perfumes, carteiras ou correntinhas que ficavam expostos na parte envidraçada debaixo do tampo.
Que saudades daquelas calculadoras antigas que precisavam de braços com força suficiente para alavancar as manivelas.
Que saudades daquelas moças com laquê nos cabelos a perguntar entre uma mercadoria e outra:
-O que mais ???
Daqueles vendedores oferecendo um traguinho ou uma rodela de salsicha pra alegria do freguês !
Que saudades daquele:"Muito obrigado !" Volte sempre !
Dito com emoção na hora da saída.
Hoje estamos inseridos - e não temos outra escolha - neste mundo frio e insosso destes modernismos.
Hoje, estou azedo, ranzinza, procurando briga.
Foram tantas "invertidas" nestas minhas mau sucedidas investidas no modernismo dos celulares.
O dia já ia se acabando quando joguei a toalha.
Tentarei amanhã,quem sabe?
Aí, sentado atrás do balcão,espiando a rua desertica nestes tempos de cagaços,retomei um dos armazéns de minha vida e um episódio hilário promovido por minha mãe e uma senhora, italiana da gema,que era sócia do estabelecimento.
Aqui, uma das características do relacionamento, humano, sincero daqueles empórios;
Dona Hilda, minha mãe, era um tanto gordinha o que lhe conferia uma razoável e proeminente região glútea.
Dona Ana, italiana, gente finíssima,comandava um grande número de funcionárias, sempre com aquele seu conhecido vozeirão.
Dona Hilda estava disposta a adquirir um urinol.
No armazem de dona Ana,subindo uma pequena escada dava-se para uma espécie de passarela.
[Era por lá que ficavam...os urinóis]
O armazem super lotado de fregueses.
Dona Hilda, discretíssima, aproxima-se de dona Ana e lhe fala num tom quase sussurado que é pra ninguém ficar sabendo:
-Quero um urinol, dona Ana.Pode pedir pra mim?
-Shim! Como non!
E, muito discreta ,conforme lhe foi sugerido, faz o pedido a uma moça chamada Lúcia que estava bem a vista na dita passarela:
-"Luthia" (Pensem num grito !) A Dida quer um pinico ! Pegue o maior que tiver por aí porque ela tem um bundóm que só vendo !!!
Riso geral e a discreta da minha mãe quase Morreu de vergonha.
Coisas do passado, micos imensos que nenhuma tecnologia do mundo de hoje é capaz de chegar perto.
Fechei o estabelecimento, arrumei a máscara e ganhei as ruas onde moram hoje a angústia e o pânico.
Só estas lembranças que me afloram reanimam meus passos.