Embaraços do Verão

“Vem chegando o verão, um calor no coração...” Estação que faz da contradição sua marca registrada. Se chove, são pingos pra dar enchente, se faz sol, é do tipo que seca o oceano. Estação em que as pessoas se vestem mais a vontade e se sentem menos presas. Concordo, mas quem dera se eu pudesse aderir a barriguinha de fora e aos shorts bem curtos! O pneu acoplado ao meu corpo e as mais novas celulites – provenientes do inverno passado - não me permitem tamanha exposição.

Mesmo assim, insisto em ir à praia e curtir a época de deitar no chão para tomar sol e perceber que as pessoas saem correndo quando me vêem que nem um siri-fantasma-branco estirado na areia. Então, me levanto e tento me esconder ao dar um passeio pelas pedras de Piúma e os olhares de espanto dos veranistas denunciam: eles me confundiram com uma lagartixa!

E se o problema é a minha brancura, o negócio é caminhar, pois assim tomo sol disfarçadamente sem que ninguém perceba minha real intenção: ficar morena. Só que meu sonho, ou melhor, meu desejo de morenice escorrem por água abaixo, porque basta meia hora de sol escaldante para que eu fique mais vermelha que o elefante do extrato de tomate da Cica. E tome água de coco, pois sempre desidrato.

Ah! E os axés dos trios elétricos! Quem me vê dançando, berrando e me esbaldando nem imagina o quanto detesto aquelas músicas. Vamos na “onda, onda, olha a onda! Cuidado, o Tubarão vai te pegar!” Tubarão? Nas águas rasas de Piúma? Só mesmo se estiver encalhado. Aliás, água é o que sempre falta em Piúma, principalmente na minha garganta. Será que confundo os copos d´água com garrafas de cerveja? Sei lá, mas os donos das barraquinhas já conhecem minha preferência ao responder pro garçom: qualquer uma, desde que esteja gelada, essa garota não é exigente!

Chega a noite e não sei o que fazer, não sei pra onde ir. Será que me espremo com os mimosenses nas feirinhas do sol? Ou vou tomar um sorvete com todas aquelas coberturas que certamente me farão ver vagalumes no outro dia? Talvez uma boite com as mesmas músicas que ouvi durante o ano todo! Eu sempre fico com a melhor e mais típica das opções: um lual. E o que vestir? Tudo me arde e me coça, a insolação me deixa com sono e na fossa. É feio ficar de biquini a noite enquanto todos estão arrumadinhos? Mas se eu for pra casa colocar uma roupa sei que abraçarei o travesseirinho...

Meio embaraçada eu acordo e não entendo nada. Meus familiares querem fazer uma churrascada. E coisa que não engulo na praia são os churrascos dentro de quintal. Sou a última a chegar e a primeira a sair. Não que eu não queira a presença deles, mas é que ficar em quintal - sem olhar para o mar - é bem menos atrativo que comer um peruá lotado de gordura velha, e mesmo assim deliciosa, nos quiosques de frente para as ondas e com os pés na areia. Passamos o ano inteiro trabalhando em salas fechadas e olhando para as mesmas caras e, quando temos a oportunidade de conhecer gente nova vamos nos trancafiar em quintais?

E o verão vai acabando e meus olhos fazem enchente ao se despedirem do Monte Aghá. E os embaraços do verão vão embaraçando meu cabelo, ventando em minha saia, atrasando minha hora de dormir por conta da gandaia. Eu me embaraço, não me entendo e me enrolo... Eu não sou fã do verão, mas bem que eu gostaria – que nessas horas de despedida – o sol me pegasse no colo.

Renata Mofati
Enviado por Renata Mofati em 13/10/2007
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