Furdunço

Ela acordou em uma manhã de dezembro, bem animada para fazer uma faxina, aproveitando que estava de férias do serviço, para o Natal que se aproximava. Armou-se de vassoura, rodo, panos e detergentes para começar lá na frente da casa e deixar tudo maravilhoso! Entusiasmo puro, aí que morava o perigo!
Já havia alguns anos, estava uma escada velha, de madeira, que se abria em duas partes e que alguém deixou jogada no fundo do quintal, sem uso é claro! Ela pegou a escada para começar a limpar o portão da garagem, que tinha vidros na parte de cima.
Animada, bem de saúde, com o corpo todo em dia por causa de tratamentos e academias, ela usava roupas íntimas bem na moda, o que neste dia era uma tanga bonita. Vestiu um vestido velho, abriu a escada e subiu com baldes e tudo mais, pendurando tudo na coitada da escada. Começou a ação.
Mal tinha conseguido limpar os vidros e balança daqui, balança dali, a escada que já pedia socorro há muito, não suportou os maus tratos e se entregou ao seu destino, que era o lixo. Ela caiu, passando por dentro das laterais da escada, levando consigo degraus, panos, vassoura e baldes. Ao passar pelo lado daquela estrutura podre, a tanga agarrou e por ali ficou, enquanto a sua dona se estatelava no chão, já com o traseiro sem proteção. Foi um barulho enorme e como ainda era muito cedo, acordou muita gente. Agora vem o pior:
Caída no chão e descomposta, vem correndo um menino que morava perto, ajudou-a a se levantar, foi chamar os filhos dela que estavam dormindo, fez o que pode e se afastou respeitosamente. Quando ela olhou para o passeio em frente, um vizinho quase desconhecido no pedaço e um tanto antipatizado, se desmanchava de rir, sem ser capaz de pelo menos, fingir que não viu a tragédia, que diga-se de passagem, foi anunciada.
Vinham lá de cima da rua, quatro senhoras voltando da missa e aí... se instalou o furdunço:
Elas entraram todas com ela, falando muito e a deitaram na cama. Uma perguntou onde ficavam os remédios. Como não havia tempo para procurar muito, trouxe uma arnica curtida na pinga, deu meio copo "pra curar por dentro", a outra buscou uns panos com água quente e fez compressas, uma outra achou os comprimidos e deu um, sabe-se lá de que, com água pra acalmar a dor. Enquanto isso, o filho dela Já tinha chamado o pai no serviço, que chegou montado no belzebu e xingou tudo o que sabia e o que não sabia também, espantando a última senhora que benzia, pra sacramentar a cura.
Ela acordou depois de horas, vendo o marido se desmanchar na sua frente, parecendo uma alma penada, andando pra lá e pra cá. A pinga com arnica e comprimido tinha virado uma bomba, ela queria falar e babava, não se mexia direito e o cara andava pra um lado e pro outro, quase se desintegrava na sua frente, o que não seria nada mau!
Quando chegou uma amiga, depois do berreiro todo e foi ajudá-la a se levantar, passou a mão pelas costas dela e notou algo diferente, puxou e eis que surge a tanga que na hora do horror, havia sumido. Ela se rebentou toda e o que restou foi se alojar no meio das costas; foi pro lixo, pra aprender a não fazer seu papel direito.
O vizinho maldito levou uma esfrega da dona da casa que ele alugava, porque o menino contou o que ele fez. Graças a Deus mudou-se logo depois e sumiu.
O Natal chegou, passou, o ano também, mas as dores não!
Pássaro Feliz
Enviado por Pássaro Feliz em 16/05/2020
Reeditado em 16/05/2020
Código do texto: T6949121
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