PENSEI: O que é pensar?

E se pensar

Todo dia, durante esse período trancafiada em casa, tenho pensado sobre o ato de pensar. Não em pensar nada específico. Não em pensar numa filosofia elaborada. Mas pensar, refletir, entristecer-se, ter ideias, usufruir do vazio existencial de não se chegar a uma conclusão. Não, não é nada complexo ou fora do que nossa espécie está apta a fazer, mas dói. Dói tanto, que a gente se esforça pra não pensar sobre como é pensar. Passamos a maior parte do tempo escondendo nossas ideias, fugindo do ato de argumentar e de aprender a pensar em uma coisa que achamos difícil, porque pensar dói.

Mas, curiosamente, louvamos essa característica como a nossa distintiva. "Somos animais racionais porque pensamos". Ah, bulhufas! Como se nós aproveitássemos o nosso potencial pensativo mais que um sapo quando captura um inseto ou um leão que espera o momento certo pra predar o gnu. Não sejamos tão egocêntricos, esses animais também pensam, a diferença é que eles não desenvolvem um senso crítico sobre o risco da extinção dos insetos ou do sofrimento no momento de morte do gnu.

A questão é que, vivemos em uma dicotomia com o ato de pensar, podemos pensar e não gostamos da dor e do sofrimento dessa dádiva, mas usamos ela quando o assunto é nos distinguir como espécie. Em que infernos de momento vamos entrar em consenso, ao menos uma vez, sobre o que é o nosso pseudobrilhantismo pensante?

Eu não vou buscar uma resposta para esse questionamento, pois tive que pensar e me cansar durante a construção desse texto. E dói, até a metalinguagem de saber o que é esse raciocínio dói. Mas fica aqui a cargo de quem quiser pensar, se pensar é mesmo tão especial ou se é algo que valorizamos tanto quanto achamos que sim.