Só ela

Agora ela não era mais a melhor, nem a pior. Agora, ela é nada. Não significa nada, não representou nada e não foi capaz de fazê-lo mudar.

Por mais que ele dissesse que o carinho ainda existia e a vontade de tê-la por perto era constante, ela não se convencia.

Pra que acreditar em mais palavras doces, se todas as anteriores eram mentirosas?

Toda a intimidade e afinidade adquiridas em uma noite pareciam nunca ter existido, nunca ter sido sentidas por alguém; exceto por ela, que sentia tudo igual, ou até mesmo mais intenso.

Mas era apenas a menina que chorava por alguém que não a queria, que desejava o inferno pra ela.

Inferno? O que é o inferno diante do sono infinito, da falta de apetite e do sorriso escondido em algum lugar que ninguém sabe mais onde achar? Até os amados e perigosos cigarros pareciam desinteressantes.

Andaram dizendo pelos cantos que ela estava distante, desconcentrada, irritada e acabada – estava mesmo. Ela não tinha mais porque disfarçar tudo isso; pra que sorrir se sua vontade é de sumir? Pra que fingir que está tudo certo quando não está?

Pode todo mundo dizer que vai passar, pode até ele debochar; mas só ela, apenas ela sabe o que sente. Só ela sabe o tamanho e intensidade da dor ao se perder um braço direito. Só ela sabe como é incômoda a ausência de algo tão estúpido como um simples e torto sorriso. Só ela sabe como dói não ser ela a escolhida. Só ela sabe como dói ser a amiga. Só ela sabe como dói a ironia. Só ela sabe como uma música pode ferir quase mortalmente a alma. Só ela sabe o que é rezar mais por outro do que por si mesma. Só ela sabe como o metrô perdeu a graça. Só ela sabe a importância de um lenço de papel. Só ela sabe o que é amar uma foto. Só ela sabe o que é reler páginas com mensagens. Só ela sabe como perder o que nunca se teve.

melody nelson
Enviado por melody nelson em 15/10/2007
Código do texto: T695789