PANDEMIA EM PRETO E BRANCO
Ysolda Cabral



A minha Poesia anda tão tristonha que não se manifesta de maneira que eu possa traduzi-la e, como comungo do mesmo sentimento, ficamos juntas e caladas, dia após dia de espera, esperança e muito trabalho físico, (faxinas e limpezas diversas entre outros afazeres domésticos), mais o trabalho intelectual, em “home office”, que nos proporciona o sustento, e que, por ele, damos graças e realizamos com esmero e dedicação, diga-se de passagem. Afora isso, os dias correm ora devagar e ora ligeiro, dentro do ''isolamento social'' tão necessário neste momento.

A Pandemia se alastra deixando cada vez mais rastos de morte e muito medo. Sentimentos menores e da pior espécie humana estão se manifestando com mais afinco. Notícias de assassinatos, a sangue frio, tomam conta de todas as mídias, nos deixando atônitos, perplexos...

O assassinato, por asfixia, do preto americano, George Floyd, por um policial branco e pelos demais pares que a tudo assistiam e nada fizeram, repercutindo em ondas de protestos, há mais de dez dias, trazendo à tona a questão racial, não resolvida, nem quando Barack Obama se tornou presidente do EUA.

Aqui no Brasil, o assassinato, por policiais, do garoto também preto, no Rio de Janeiro, João Pedro, que brincava com os primos dentro da casa dos seus tios; e a morte inexplicável, do garoto, mais um preto, de nome Miguel, de apenas 05 anos, que caiu do nono andar de um prédio de luxo, no centro do Recife, por, no mínimo, negligência da socialite branca, primeira-dama de Tamandaré, e que estava responsável por sua guarda e segurança, enquanto a sua empregada doméstica, * paga pela prefeitura da referida cidade, levava o seu cachorro para passear; são exemplos do que estamos vendo e não compreendemos como tudo isso pode acontecer e de uma só vez.

- Tempos inimagináveis estamos  testemunhando.

Será que aos olhos de Deus somos mesmo todos iguais? Talvez só na aparência, mas nem todos com aparência de gente são humanos e filhos de Deus. - Não é questão de julgamento, e sim de uma constatação de fatos, e, contra fatos não há argumentos.

 
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Recife/PE
05/06/2020
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza ou saudade sem pudor.

* Ysolda na imagem ilustração
 -Arte de Leneide Leite