Tardes de outono

Eu queria que a vida terminasse em uma tarde de outono, e que nela recomeçasse também. Só assim, elas - a vida e as tardes de outono - nunca teriam fim. Pois há nelas, tardes de outono, algo especial e indecifrável, belo e instigante, que revigora a alma de poucas esperanças e transborda aquela já plena de otimismos. Não sei, mas acho que é o Sol.

Nas tardes de outono, o astro-rei goza de um tom diferente: é um amarelo-dourado que não ofusca, que não afugenta. Amarelo-ímã. Atrai um recanto, um livro, uma conversa, um café, um abraço, uma contemplação. As tardes de outono não têm pressa. Ninguém pede socorro ao universo para chegar a casa e poder se refrescar do calor do verão ou se aquecer do frio do inverno. Elas são mediadoras. Elas nos conectam ao que temos de melhor em nós mesmos e na natureza, e nos fazem lembrar que somos parte deste todo, do qual saímos e para o qual um dia regressaremos. Por isso, elas são o início, o meio e o fim de tudo.

Em breve, este outono se irá. Que não leve consigo o amarelo-ímã do Sol acolhedor. Mas que deixe, sim, o presságio de tempos de esperança, porque anda difícil viver, está complicado existir. É frio ou é calor. É nada ou tudo. É certo ou errado. E no final é tudo cansaço, desilusão, frustração, medo. As tardes de outono são milagrosas, as folhas que caem iniciam um novo ciclo da vida. Reiniciemos um novo nas nossas. Sejamos folha, para a vida nunca deixar de ser uma tarde de outono.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 19/06/2020
Reeditado em 19/06/2020
Código do texto: T6982023
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