O cardeal-filósofo Dart e o Conde Bacamarte

Boa tarde meus 23 fieis leitores e demais 36 que de quando em vez vem aqui nesse meu castelo literário ler as nobres crônicas desse Conde Bacamarte e suas aventuras no Reino de Charky City. Caros súditos, eis que nessa data auspiciosa escreverei umas breves notas sobre como eu e a Condessa Louise viemos parar aqui no meu castelo em Charky City e o que o Dart tem a ver com isso.

EU E LOUISE EM FAXINAL DO SOTURNO

Pois bem, que mal tem? Mal nenhum, não é mesmo? Então vamos lá! Andando por Faxinal do Soturno à passeio com meus amigos do Sul do Brasil, de quando estudei naquelas terras, de folga durante um congresso estudantil infestado de proto-esquerdopatas oitentistas na Universidade Federal de Santa Maria, vejo aquela beldade ítalo-lusitana de 19 aninhos, de esvoaçantes cabelos de trigo e olhos de mata-virgem, pele de porcelana chinesa e corpo de mulata do Sargentelli. Ah, sem dúvida, o jovem Bacamarte alugou uma casa naquela cidade e cercou a rapariga até pegar pra ele. Essa era a Louise, minha musa inspiradora, sócia do meu contracheque e mãe do Toninho Júnior.

Casei com a guria, mas a relação com minha sogra, Mortícia Nonathow, se deteriorou rapidamente. Buenas, como meus estudos aguardavam conclusão na Universidade Federal de Porto Alegre, levantei acampamento com mala e cuia pra lá, levando a Louise junto comigo, mediante mil promessas que eu, embora por demais muito mentiroso, estava realmente disposto a cumprir, visto que a Louise era buenacha uma barbaridade e valia o investimento. Na verdade este Bacamarte estava doido de paixão pela guria. E foi barbada tirar ela de Faxinal, pois este Bacamarte, além de muito bonito (já disse que sou melhor que o Gianecchini) e PHD em Kama Sutra, estava montado na grana do Sr Bacamarte pai (como o Toninho Jr hoje está comigo) e a chinoca sempre teve um "Q"(zão!) de interesseira que ela não disfarçava, e isso dava um charme tipo Katie Scarlet para ela. Eu não chego a ser um Rhett Butler, na grana, mas o pai tinha lá seus rendimentos. Também, como acontece muito ainda hoje, naquele tempo algumas brasileiras já gostavam de arrumar um estrangeiro para pinotear do Brasil. Fechou todas!

CASANDO EM PORTO ALEGRE

Bom, menti pra Louise que a Groenlândia ficava na Europa e que não era mais fria do que o inverno de Faxinal do Soturno, até porque ela não sabia bulhufas de Geografia mesmo, só de matemática financeira, o que eu iria dramaticamente descobrir nos anos vindouros de muita luxúria e de muita despesa. Escrevi para o Sr Bacamarte informando que eu havia casado e que precisava de um reforço na mesada pra sustentar a esposa. Ele me respondeu que o dinheiro que dava era pra mim gastar só com coisa séria, com jogo e mulherada, e não para bobagens como casamento, ainda mais com uma brasileira, colona e das grotas. Injustiça, Faxinal do Soturno é um encanto! Eu conheço o meu velho, então mandei pra ele uma foto da Louise dormindo pelada. Ele só enviou um telegrama em resposta, dizendo "Mas bah, tá mais do que explicado! Segura essa que é carne de primeira." Não fiquem estarrecidos com o que fiz, nós somos muito liberais aqui na Groenlândia.

RUMO À CHARKY CITY

Terminados meus estudos no Sul do Brasil, voei pra Charky City. Demos uma paradinha umas semanas para lua-de-mel em Copenhague, era verão europeu, a Louise já estranhou e eu menti que era inverno. De lá para Nuuk e de carro para Charky City, no castelo dos Bacamarte. A Louise ficou surpresa com o "minimalismo" e a vastidão da Groenlândia, mas como era uma luso-gringa lá de Faxinal que nunca tinha ido mais longe na vida que Santa Maria, cidade universitária e militar no coração do Rio Grande do Sul, a sua mega experiência em termos de civilização, acabou achando tudo muito legal, até porque aqui a vida dela era muito boa, comparada ao que era em Faxinal. Estranhou um pouco também o que ela chamou de "os esquimós" daqui, o povo nativo. Sim, aqui é uma mistura de europeus loiros branquelos com os nativos dessa região, tudo gente boa. Viajamos pra Dinamarca de vez em quando, vamos pro Brasil no verão daí, ela nunca reclamou de nada. Nem eu! Bendito dia que eu fui conhecer Faxinal do Soturno. Bons tempos esse de início da relação, nós dois bem jovens, mas bah, não parávamos nem para respirar, eh eh eh eh. Haja fôlego!

DART E O RECANTO

Buenas, os anos se passaram felizes e agora eis-me aqui no Recanto das Letras, onde encontrei o filósofo socialista de Pesqueiro, o cardeal leigo de Arcoverde agora radicado em Recife como o maior cronista de Pernambuco. Sim, estou falando do Dart, esse literato multifacetado e, com certeza, o mais fértil do Recanto. O homem é uma máquina de produzir crônicas. Eu o leio todo o dia, até porque ele escreve todo o dia três textos, duas crônicas sempre maravilhosas para meu deleite e mais um poema legalzinho, na verdade letras para canções. Admiro o Dart, claro, sei quando estou diante de um cronista nato, dos bons. As crônicas do Dart e os quebra-paus na escrivaninha do Sô Lalá são coisas que adoro aqui no RL. Ah, o Sô tuzes conhecem, né? É irmão do J Estanislau, escreve textos políticos diretos e incisivos e vai um pessoal de direita lá, sem revelar a identidade, atiçar ele. E ele pá, desanca os caras sem trégua e é muito divertido isso. O Dart é mais sensível, faz textos mandando recado pros caras que criticam ele do mesmo jeito sorrateiro que fazem com o Sô. Já esse não, debocha dos caras, tira sarro e continua a vida literária impávido. Muito legal.

DART E O CONDE BACAMARTE

Pois o Dart me chama, aqui no Recanto, de Conde Rúnico, ou seja, um nobre escandinavo, que é o que realmente sou. Entretanto a gente sabe que os amigos nos enxergam melhor que nós mesmos nos olhando no espelho. E entrei numas que o cardeal filósofo das crônicas estava, na verdade, conscientemente ou não, vendo o quão meia-boca é esse Bacamarte, mesmo que eu mesmo me ache grande coisa, o que é fato, pois sou muito autocentrado, mais autocentrado do que mentiroso, aliás. Por isso só escrevo sobre mim, circulando meu umbigo literário e fazendo de meu cotidiano prosaico uma epopeia de frivolidades. Como quase todo mundo nessa vida, aliás.

[Pessoal, pela primeira vez reparo que tem aqui embaixo do quadro do texto um aviso de "caracteres restantes". Nunca havia notado isso. No momento está avisando que restam 1.565.965 caracteres. Cruzes, não escreverei uma crônica de mais de um milhão de letras! Deve estar longo o texto. Não importa, a maioria das pessoas não lê mesmo nem os pequenos antes de comentar. O Dart, pelo menos, tenho certeza que vai ler esse integralmente. Tu está lendo, né, Dart? Voltemos à crônica.]

Onde eu estava? Ah tá, no apelido que o Dart me deu aqui no Recanto. Então eu estava tomando um vinho Conde de Foucauld, produzido em Bento Gonçalves, Serra Gaúcha, que os amigos de lá me enviam, e fui refletindo... O vinho Conde de Foucauld é um meia-boca de lá, comunzão. E daí pensei também sobre o título nobiliárquico de conde. É mediano, fica ali, acima dos barões e viscondes e abaixo dos marqueses e duques. No meínho, mediano, meia-boca! Isso, eu sou um tinto seco Conde de Foucauld, comunzão, meia-boca, afastado dos piores, mas longe dos melhores. Os caídos são os escudeiros, cavaleiros e baronetes, enquanto os grandões são os grão-duques, arquiduques, infantes, príncipes, reis e imperadores, esses últimos os maiorais. Rei é o monarca de um país, imperador governa sobre várias nações e conde nem fede e nem cheira. Talvez até lembrem de convidar ele para uma festa do rei. Eu nunca fui.

Como nós - e as Ilhas Faroé - somos uma possessão da Dinamarca, eu até que já poderia ter sido convidado pela rainha Margarida II para uma boca livre no Palácio de Christianborg, em Copenhague. A Dinamarca é uma monarquia constitucional, mas quem manda de fato é o primeiro-ministro - no caso, a primeira-ministra Mette Frederiksen, de centro-esquerda -, como na Inglaterra. Não vou entrar nesses detalhes para não encher o saco com miudezas que não vem ao caso. Então basta saber que não sou um nobre grandão a ponto de ir nas festas da rainha. E o Dart, na sabedoria de seu socialismo sem partido e de seu cristianismo sem religião, enxergou isso claro como as pontes e o Marco Zero de Recife, a Veneza brasileira.

Bom, então era isso, creio que nunca se encheu tanta linguiça num texto aqui no Recanto. Todavia, linguiça feita na hora, de pá, assim como o Sô responde os provocadores anônimos nos textos dele. Sentei e escrevi só tendo o titulo na cabeça! Gostou, Dart?

[Ainda faltam 1.563.659 caracteres. Puxa, dá pra escrever um texto bem longo no Recanto. Vi que o limite máximo são 1.572.864. Logo, usei até agora 9.205, míseros 1.7% da capacidade máxima permitida para um texto, ou seja, dá para fazer um texto 60 vezes maior que essa crônica que tuzes acharam muuuiiiittttoooo gggrrraaannndddeee. Um dia ainda vou sentar e escrever de bate-pronto e de improviso uma crônica usando todos os caracteres possíveis, sem parar (Será que dá para fazer sem parar? Isso daria mais de 24 horas, por certo). Vai se chamar a Maior Crônica do Mundo e com certeza vai colocar este Bacamarte e o Recanto das Letras no Guiness Book. Agora ainda tenho 1.562.957.]

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

Mais textos em:

http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina

Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".).

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 26/06/2020
Reeditado em 26/06/2020
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