Nas águas do Barqueiro Caronte... (BVIW)

As sensações de inverno a cada dia tomam conta da paisagem, da rua e do antigo portão de madeira coberto, em parte, por esmaecidos tons de verde da hera. Observo as imagens e as lembranças dessa misteriosa passagem do tempo que me acariciam, como se, um vento de amor & saudade fossem... Lembro - me, ainda, do gosto do nosso primeiro e tão sonhado beijo, encantada emoção esse tocar de lábios doces e tão intensos, repleto da união do inesquecível aroma de alumbramento. Há momentos que se eternizam num olhar, em um abraço de almas, realizando desejos, nesse pulsar de corações, poeticamente juntos.

Nos caminhos tecidos - delicadas pontes entre a realidade e sonho chegará o momento da derradeira e insólita viagem; nas inadiáveis águas do Barqueiro Caronte as palavras do ÚLTIMO PARÁGRAFO serão escritas, sejam de uma crônica, um conto ou prosa poética e nessa instigante teia de cintilantes reticências despede-se a vida e uma nova jornada se inicia.

Enquanto isso permanece em mim as pinceladas da desgastada, mas atemporal canoa de Guimarães Rosa... Sinto um gosto de madeira, de despedida quase imersa, totalmente, n’água, apaixonadamente, plena de sabedoria no conto “A Terceira Margem do Rio”.

***

Guimarães Rosa - Entrevista raríssima em Berlim (1962)

https://www.youtube.com/watch?v=ndsNFE6SP68