Cometi um crime

Antes que me julguem, que me condenem, que me mandem para aquele temido lugar, peço que tenham compaixão, que entendam as razões pelo crime que cometi, não nego, confesso que matei e fiz isso para evitar um mal maior.

Às autoridades de plantão, que tomem o devido conhecimento e providências cabíveis para o devido processo legal, não quero piedade nem perdão, mas que a minha pena seja justa. Nem mais, nem menos.

Muitos não me perdoarão, mas admito, matei. Não que eu tivesse que matar, também não foi em legítima defesa, nem foi por maldade, talvez, por necessidade.

Ela já estava esquentando demais, me sufocava com os seus mais imponentes cálculos, invadia meus sonhos, queria saber o que eu formulava, me forçava a contar, a imaginar e pensar de forma estritamente exata, não aceitava ao menos um deslize, por mais banal que fosse, nem mesmo, uma vírgula fora do lugar.

Ela estava exigindo muito de mim, às vezes, me faltava até o ar, e sem fôlego, foi preciso agir, não foi fácil, mas tive que tomar uma decisão extrema. Diante de tanta pressão, calculei uma fórmula exata, imaginei o côncavo e o convexo da questão, cheguei a temida conclusão de que não era de ferro, que não suportaria, foi aí que agoniei. Esperei a madrugada sombria, espiei pela fresta da porta e, percebendo que ali não havia mais ninguém, fui lá e fiz o errado com toda a convicção do mundo, afinal, sou de humanas, então, matei a aula de matemática, tranquei a porta, voltei a dormir e sonhar.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 12/07/2020
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