Direto ao assunto, sem perda de tempo

Perder. Do Latim perdere; ser privado, ficar sem o domínio, cessar de ter, deixar de sentir, ficar parcial e/ou temporariamente sem. A lista de significados é grande, mas genericamente o sentido é o mesmo e denota dor... Como impedir de acontecer? Como adiar até o nunca?

Inacreditavelmente precisamos consumir um longo tempo da vida para perceber que a vida é um constante sinal de menos. Sinal de perda, de exclusão, de retirada, de recusa, de ausência...

Quantos de nós já pensamos na quantidade de perdas enfrentadas durante nossas vidas? Poucos! No entanto, perdemos a todo o momento! Subtraímos a cada instante. E isso não é bobagem de cronista em crise de inspiração. Não é perda (!) de tempo fazer tal reflexão que pode, à primeira vista, parecer tola. Infelizmente não... E, desventuradamente, perdemos (!) a noção de tudo aquilo de que fomos obrigados a nos privar.

Por um passeio reflexivo em nossas lembranças, descobrimos inúmeros castelos que se transformaram em pó. Quantas vezes perdemos oportunidades deixando escorregar uma ocasião que jamais se repetiu. Chegamos a ponto de deixar de amar ou de ser amado por motivos que outrora pareceram gigantescos e que, hoje, transformaram-se em razões minúsculas. E as conseqüências foram imensas, pois perdemos um outro mundo: uma nova família, um novo ser vindo à luz ou simples momentos eternos de prazer, de alegria... Deixamos fugir momentos que poderiam ser belos e agradáveis por motivos que não entendíamos bem, esquecendo-nos de que esses instantes seriam maravilhosos justamente porque poderiam vir a ser singulares!

Temos prejuízo quando compramos um objeto de custo elevado, quando esquecemos um porta-notas num balcão ou, ainda, quando procuramos por um objeto esquecido em algum lugar. Perdemos a hora quando o despertador não soa; lá se vai o bonde se não nos apressarmos; perdemos no jogo quando somos felizes no amor e, nestas horas, ainda perdemos a paciência!

Será que vivemos para perder, e viver é caminhar para as perdas? Ou será que devemos saber viver, apesar das perdas, aprendendo a superá-las ou, ao menos, a confessá-las?

É. É preciso não perder a esperança, porque uma vez perdida...

Como não ter em mente a perda maior da vida, a morte... Como a encarar? Como enfrentar o afastamento de alguém tão importante e querido para nós? Como aceitar que um novo dia nasça depois disso? Difícil permanecer acordado e ver a claridade do Sol ameaçando surgir quando algo dentro de nós está terminado...

Por tudo que sofremos a cada perda, estamos sempre tentando driblar a sorte, enganar o destino e, assim, vencer. Tentamos conseguir um bom emprego; ganhar um dia de folga, um elogio ou um prêmio, um presente, um neném, uma partida de futebol, as próximas eleições e, até mesmo, na loteria. E até pensamos ter êxito algumas vezes uma vez que esquecemos o preço pago pelos falsos ganhos...

Essas reflexões, agora transformadas em escrito, parecem um tanto melancólicas e duras. Infelizmente! Contudo, não foi tempo consumido à toa. E, de toda a forma, sem retirar os pés do chão, ainda se sonha alcançar um plano irrealizável. Quiçá uma vida de mais (ou demais...) para nós, na qual possamos somar muito, multiplicando sempre, sem precisarmos diminuir tristemente.