Irmã e Irmã
Uma era mais velha. Outra, óbvio, era mais nova. Uma tinha 16, a outra, 14 (14 e meio, fazia sempre questão de frisar). Dormiam no mesmo quarto, dividiam o mesmo armário e o mesmo banheiro. Essa proximidade toda conseguia transformá-las em segundos, de melhores amigas à inimigas mortais.
- Posso usar sua sandália?
- Qual?
- Aquele que a mamãe te deu no seu aniversário. É linda!
- Pode pegar sim, eu não vou usar.
- Você acha que combina com essa blu… Juliana, cadê minha blusa?
- Que blusa?
- Não se faça de sonsa, você sabe de que blusa eu tô falando.
- Se eu soubesse, não tava perguntando.
- Cadê minha blusa, Juliana?
- Não sei do que você tá falando.
- Se é assim, vou pegar a sua.
- Se você pegar, eu jogo a sua fora.
- Ah, então quer dizer que ela tá com você?
- Eu não disse isso.
- Mas quis dizer.
- Eu já falei que não sei onde tá sua blusa. Aliás, nem sei de qual blusa você tá falando.
- Sua pirralha babaca.
- Como se você fosse muito adulta, né.
- Pelo menos eu já dei beijo na boca.
- Eu também.
- Ah é? Quem?
- O Robertinho!
- O Robertinho?
Pronto. Isso tinha sido motivo suficiente para as duas se atracarem. Puxão de cabelo daqui, unhada dali e, em pouco tempo, ambas estavam descabeladas, arranhadas e com as roupas rasgadas. Depois desse dia elas nunca mais se falaram. Arrancar os cabelos, arranhar o rosto e rasgar as roupas, tudo bem. Mas uma pirralha daquelas beijar o Robertinho, o seu Robertinho, já era demais.