Vice-versa

Vice- Versa

Indecisão, hesitação, irresolução, determinação, deliberação, coragem, desembaraço.

Alguns têm alto poder de decisão. Resolvem tudo no piscar de olhos e sempre se saem bem em suas determinações. Outros hesitam, são indecisos, como Samaritana. Ela não tinha desembaraço nem coragem de decidir em curto prazo. Estava sempre pedindo tempo, pensando, refletindo e querendo opinião. Era irritante ir com ela ao supermercado. Escolher um xampu é um Deus nos acuda. Uma dúvida cruel, meu cabelo é oleoso ou seco? Compro pra cabelos normais ou danificados? Torra a paciência de quem a acompanha.

Nem gosto de lembrar quando ela foi trocar de carro. Extrapolou a conta telefônica ligando para um e para outro pedindo informações. Dormia na certeza que tinha escolhido a marca, a cor, o modelo, mas quando o dia amanhecia começava tudo de novo. Ligava para o Paulo, para a Anita, para o Gabriel pedindo ajuda na escolha do veículo.

Até na manicura ela dava trabalho na hora de escolher o esmalte. Perguntava a todos que estava presentes qual a cor mais bonita.

Na verdade ela era a tal “Maria vai com as outras”, sua opinião, sua vontade não valia. Sua vida era decidida pelos outros. Sempre procurava saber de fulano que já usou, de cicrano que tem igual.

Samaritana era quase uma quarentona e ainda estava solteira. Era do tempo que o casamento era indissolúvel e não podia errar na escolha. Se para coisas mais simples era aquele “lero-lero” imaginem escolher um marido. Dispensou o Pedro, o Mário desistiu de tanto esperar uma resposta, e sendo assim, ela continuava só. A moça já tinha se conformado que morreria virgem quando de repente surge um Fernando em sua vida pedindo logo sua mão para um compromisso sério.

Ai meu Deus! Que dilema. Ela sabia que seus amigos iriam dizer que aceitasse, mas neles não podia confiar porque todo mundo queria que saísse do caritó. E depois nenhum deles conheciam Fernando. A quem deveria perguntar?

E foi assim, que Samaritana tocou o interfone da casa de Verônica.

- Pronto, pode falar.

- Você é ex-esposa de Fernando?

- Sim. Quem é você?

- Sou a futura esposa dele. Aliás, serei depende das informações que você me passar.

- Olhe, não vou nem mandar você entrar porque não compensa. O que você quer saber eu posso lhe dizer em poucas palavras. Esse material é de terceira qualidade, pode jogar no lixo.

Samaritana saiu pensativa. Diferente das outras vezes que diante de uma informação dessa natureza, deixou várias vezes de fazer bons negócios ou mesmo comprar um perfume, de ir uma festa. Sempre que alguém lhe dizia não presta, estava encerrado. Buscava outra opção. Mas, essa seria com certeza a última oportunidade de encontrar um marido, já estava passando da idade, teria que pensar.

Ao cair da tarde, Fernando chegou para ter a resposta final. O “sim” ou o “não”. Baseada nas histórias passadas todos já sabia que o rapaz levaria o “não”. Fernando segurou as duas mãos de sua amada e perguntou:

- Quer casar comigo?

- Sim.

Samaritana quebrou o “paradigma” que lhe acompanhava até aquele momento, casou com Fernando, está feliz no seu lar doce lar, e hoje ela ensina aos outros. O que é bom pra você pode não ser para o outro.

E vice-versa.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 21/10/2007
Reeditado em 17/05/2020
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