Amigo Famoso

Leitores, gente é bicho besta. O povo tem amigos de verdade, daqueles que emprestam dinheiro sem anotar na caderneta, que estão lá toda hora que for preciso e escondem o cadáver sem fazer perguntas. Mas na hora de citar um amigo, se tiver um famoso, "ai, eu sou amigo do fulano". Às vezes nem é, é só conhecido, fez amizade nas redes sociais, tirou uma foto e pronto; meu amigo.
Eu também tenho amigos famosos e anônimos. E sabem por que os tenho? Porque não faço diferença entre eles. O bem-querer é o mesmo, a importância em minha vida é a mesma. Eu fiquei muito puta uma vez, quando o Custódio era vice-reitor da UFC, em que a gente foi a um evento e eu fiquei acarinhando o rosto dele, como era meu costume de apaixonada. Acontece que as conhecidas invejosas dele comentaram de mim e ele veio me dizer que, naquele momento, eu estava com a mão na perna do vice-reitor. Oh, rapaz. Pra que. Brigamos feio. Mandei meu ex-amor se lascar, ir pra puta que o pariu. Depois me arrependi, claro, pedi desculpas, porque a paixão acabou mas a amizade continua firme.
Mas eu tenho um amigo que é muito especial para mim. Porque ele é uma raridade, me conquistou de cara, como ele mesmo diz, somos almas gêmeas.
Um dia, eu estava no trabalho e vi que ia ter uma palestra na UFC com o filho de Candido Portinari, um tal de João Candido Portinari. Palestra na UFC era igual a ver o Custódio, então eu chinelei. Saí mais cedo do trabalho e fui para o Campus do Pici. Acontece que eu cheguei cedo demais, só tinha um velhinho no auditório. Sentei-me e continuei a ler o livro de poemas da Cecília Meireles. E o velhinho lá, montando o equipamento. Toda vez que ele passava, sorria para mim, bem bonitinho, o olho azul chega brilhava. E eu sorria de volta, pensando: "esse deve ser o homenzinho do som". O povo começou então a chegar, chegou o reitor, chegou Custódio, e na hora de compor a mesa o professor Sandro chamou o ilustre palestrante, filho único do grande pintor brasileiro Candido Portinari. Sabem quem era? O homenzinho do som. Eu achei foi graça. Depois da palestra conversamos, trocamos telefone e é como se tivéssemos sido amigos a vida toda. Ele mora no Rio de Janeiro mas sempre que vem a Fortaleza com sua esposa Maria, a gente se vê. Ele me chama de Srta. Raposa e eu o chamo de João Le Petit, porque nosso livro preferido é o Pequeno Príncipe. E eu não gosto dele porque é rico, famoso e essas coisas que as pessoas dão valor. Gosto porque ele me olha dentro dos olhos, briga comigo quando eu me espalho demais, é um grande homem. Joãozinho conheceu todos os amigos ilustres de seu pai, o Mestre Graça, Zé Lins do Rêgo, Pablo Neruda, Villa-Lobos. É cheio de histórias sobre essas pessoas que a gente só conhece dos livros. Meu Petit me cativou.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 01/09/2020
Código do texto: T7051883
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