Camila

Eram 7:30, ela encaixa a bunda na cadeira, fixa o olhar no computador, estica os braços na mesa com uma pilha de papéis no lado direito, mais um dia no trabalho. Aquela sala fechada com aquele frio vazio do ar condicionado acompanhada de colegas tão chatos quanto a sua função naquela empresa, essa era a rotina dela.

Ás 9:00 parava para beliscar algo e comia aquele salgadinho murcho, ainda sonha em um dia parar de comprar essas porcarias, mas talvez esses momentos sejam o único alívio no meio do caos de telefones, teclas de computador, gritos e risadas. Volta a trabalhar às 9:30, enquanto repete seu trabalho robótico sonha com seus desejos, aquela ideia maluca de viver da escrita, a faculdade que tanto queria fazer mas infelizmente estava tão longe.

Então chega 12:00, ela para e vai pro refeitório, come aquele prato de arroz, feijão, farofa e bife, aproveita cada mastigação como se fosse a última, o prazer é tão grande que seu corpo bloqueia todo o barulho exterior.

É 13:00, ela volta ao trabalho, afinal o burro nunca para de trabalhar. E continua ali sonhando, principalmente com o dia em que não precisará mais estar somente sonhando, não que ela não queira mais sonhar, ela queria viver a vida, queria amar, viajar, beber, comer, gritar, rir, chorar, viver.

Chega 17:00, pega o ônibus perto do trabalho e vai pra casa, desce e caminha até o ninho, chegando lá, caí no sofá, fecha os olhos, relaxa como se estivesse drogada, quando volta a si percebe o tamanho da fome e pede uma pizza porque merece, abre uma cerveja.

Logo dá 21:00, é hora de dormir, ela cambaleia bêbada até a cama e suspira, mas a sua cabeça não quer dormir agora, ela quer pensar, quer discutir contigo sobre a sua vida, o que você está fazendo com ela?

A gente existe pra viver não é?

Ela abre a boca: "Só dorme Camila, só dorme."