Para um amigo

Caro amigo!

Como faz tempo que não nos encontramos! Vão mais de 30 anos! Naquele tempo costumávamos nos comunicar não através de e-mails, MSN, ou outro meio eletrônico disponível. O contato era através da boa e velha carta. Alguma vez escrita à mão ou para os mais modernos daquela época, escrita a máquina de escrever. Este era o meio mais moderno que havia.

Como estão as coisas?

Aqui está tudo diferente! Se lembra quando brincávamos nas ruas até altas horas da noite e o máximo que nos acontecia era levarmos uma corrida da guarda patrimonial da maior empresa da cidade, que chamávamos de Rapinha? Pois é! A “Rapinha” não existe mais e nem mesmo a tranqüilidade que nossos pais tinham em nos deixar brincar até tarde. Hoje dá até medo de sair nas ruas depois de uma determinada hora.

Confesso a você, que não tenho coragem de deixar meus filhos saírem à noite não, apesar de ficar com pena deles não poderem brincar como fazíamos antes.

Era corrida, pique, futebol na beira do rio – torcendo para a bola cair e poder se justificar para os pais porque chegávamos molhado em casa. Tinha até mesmo amarelinha. É bom deixar claro que naquela época brincar de amarelinha era também coisa de garoto.

Que gostoso que era! Que saudades!

Hoje vejo as crianças correndo, mas para irem aos shoppings da vida. Elas não conhecem aquelas brincadeiras que tanto nos encantavam e com as quais nos deliciávamos.

Sei que o mundo passa por evolução, mas fico me perguntando porque mudar aquilo que dá certo? Qual será a graça de ficar horas e horas em frente a um computador “conversando” com uma outra pessoa quando poderia ir se encontrar com ela e falar a cara a cara.

Minha filha diz que isso é o máximo, mas será mesmo?

Será que não ver o sol, o dia, a noite e as estrelas é realmente o máximo? Será que comprar manga no mercado, em vez de chupá-las no pé é o máximo? Será que correr numa esteira para emagrecer em vez de brincar de pique é o máximo?

Se é realmente para mim o mundo mudou não para melhor.

Ainda sou do tempo em que as casas não tinham muros, as portas ficavam abertas, todo mundo se conhecia. Hoje, sinto-me um verdadeiro prisioneiro em minha casa cercada de muros e vou ser franco nem conheço direito os meus vizinhos. Sei quem são, mas nem os nomes direito eu sei. Ir na casa deles? Nem pensar! Eles na minha? Idem.

É meu amigo o mundo mudou! Hoje já sou chamado de “tio”. Logo serei de “vô” não pelas minhas duas netas, mas pelas suas amigas. Não me considero velho. Apenas as coisas aconteceram mais cedo na minha vida.

Mas, não reclamo. Afinal posso hoje estar contando um pouco da história da minha vida. Coisa que não sei se meus netos poderão fazê-lo.

Um grande abraço

Fernando de Barros
Enviado por Fernando de Barros em 22/10/2007
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