Calote 

O elevador subia a passos de tartaruga,e de uma tartaruga velha e cansada.
Eram 7:00 h da manhã e eu já  estava na rua atrás daqueles caloteiros que eram tão difíceis de pagar o que deviam ao meu patrão.
Moisés Schwartzman ,era o meu patrão e tinha há muitos anos uma loja de tecidos na 25 de março ,sendo  conhecido na região por ser um comerciante muito rico e um agiota contumaz,
Cobrador de promissórias, foi esse o único emprego que meu tio Saulo, irmão de meu pai me conseguira ,quando vim de Ituverava, uma pequena cidade do interior de SP.com seus 38000 habitantes, para tentar a vida na megalópole.Meus pais queriam que eu tivesse estudado e tirasse um diploma,mas eu já naquela época estava cansado daquela vida pacata e sem perspectiva que Ituverava me oferecia além do tédio e da modorra.
Fui trabalhar na loja do Seo Moisés e morar numa pensão velha, na rua do Gasômetro .Minha vida era correr atrás de caloteiro .Não era bem o que eu queria mas pelo menos eu ficava em SP procurando um trabalho mais digno até eu me acertar.
Já estava há uns 3 a 4 meses morando em SP,quando um diia eu descendo num desses velhos elevadores ,de um prédio no centro da cidade, quando de repente, além do elevador que estalava ouvi um barulho estranho.
Barulho não,era um tiro !
Fiquei apavorado pois aquela gaiola que chamavam de elevador se arrastava até o térreo fazendo seu barulho característico parecendo que a qualquer momento iria despencar.Apavorei ,pois eu estava dentro daquele elevador sem poder fugir,
O que seria ? Um assalto,um assassinato, um suicídio ? Depois do tiro  fez-se um silêncio sepulcral e desesperador dentro do prédio.
Assim que foi possível parar o elevador, abri a porta e saí correndo.em desabalada carreira pelos andares. Foi quando ouvi o estampido de mais 2 tiros vindo do 5º andar que quase me atingiram.Em pânico eu não corria pelos degraus,eu saltava,eu voava Não conseguia imaginar nem ver quem estava atirando.
Já no 2º andar quase fui atingido por uma saraivada de balas que pareciam brotar das paredes ,soltando o reboco.Quase chegando ao térreo fui atropelado por um corpo todo ensangüentado de um homem ,vestido num paletó branco que vinha rolando pelos degraus abaixo,o que só me deu tempo de pular por cima dele e alcançar a porta da rua atropelando os transeuntes da 25 de março.Corri apavorado antes que uma bala perdida me achasse.
Não pensei 2 vezes,apavorado e tremendo como uma vara verde corri para a  rodoviária onde comprei uma passagem pra Ituverava e voltei naquele mesmo dia para minha pacata  cidade ,onde me sentia seguro.
Passados alguns anos casei e hoje trabalho no Tabelião da cidade e não preciso mais correr atrás de caloteiros.
Quanto ao Seo.Moisés nunca mais voltei a vê-lo e não lhe devolvi dinheiro algum, uma vez que de todos aqueles devedores, que na época eu fui cobrar,também ninguém havia pago.
Só depois vim a saber que o Seo Moisés para esses casos de "inadimplência" para resgatar suas promissórias ,usava de métodos bem mais convincentes e bem menos ortodoxos para receber o seu dinheiro.: à bala.
Como se diz na minha terra : "Tá sôrto sô !"
Pedro L Cipolla
Enviado por Pedro L Cipolla em 22/10/2020
Reeditado em 23/10/2020
Código do texto: T7093236
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