AINDA FAÇO COISAS QUE NINGUÉM MAIS FAZ...
Ainda ouço músicas que ninguém mais ouve, vejo filmes que ninguém mais vê e leio livros que ninguém nem folheia.
Ainda estudo filosofia por conta própria, acreditando que um dia entenderei o começo e o fim de tudo, e destaco trechos como tesouros raros só para alimentar o meu viver.
E como há muitos anos, distraída, ainda rabiscos casinhas imaginárias, ainda desenho árvores assimétricas e esboço figuras de patinhos que sempre fogem.
Ainda ouço Belchior no carro e solto meu verbo ao vento, mesmo em dias de estradas escorregadias.
Ainda danço “Staying Alive” no espelho nas noites de sábado e sinto aquele sentimento eufórico e arrebatador de uma época idílica à la Travolta. Ainda pratico meu inglês ouvindo “Baby Jane” e etc. de Rod Stewart no último volume; e agora imito o seu sotaque só que para professor nenhum notar.
Em dias inesperados ainda molho na chuva quando ninguém me vê, para literalmente lavar a alma como dizem e desencadear avassaladores turbilhões...
Ainda faço coisas que ninguém mais faz e ainda sonho paisagens em preto e branco para colorir só quando enterneço.
E ainda escrevo. Escrevo sobre a dor, cura, alegria e decepção. Todos os paradoxos da alma. Ainda escrevo sobre como aprendi a ser forte sentindo-me extremamente fraca.
Escrevo sobre o escuro da vida e a sobre a luz do autoconhecimento; sobre conseguir devolver o que não é seu para o outro e com isso criar asas de liberdade.
Escrevo, escrevo todos os dias sobre a compreensão do absurdo, do inaceitável e muito da ingratidão gratuita, à qual também pertenço.
Mas ainda quero escrever muito sobre o amor, esse o amor à arte, à literatura, à música e a si próprio, esse amor que nos salva e principalmente, nos liberta.