Sobre Medíocres e Gênios

- Meninos: a vida é Estatística! – Brincava eu com meus estudantes no tempo que ainda dava aulas. Um trocadilho para um professor de Estatística, mas também uma observação que a vida não era precisa, matemática, que uma pessoa deveria raciocinar em termos de incerteza e, portanto, as aulas que eu ministrava poderiam ser mais úteis do que profissionalmente. Explicava: quando vocês pensam “vou atravessar a rua”, a frase mais verdadeira seria: “talvez eu atravesse esta rua”. Pode ser que caia um avião da TAM sobre a calçada. Pode ser que te chamem para te avisar que afinal acertaste na Mega-Sena. Pode ser que a Gisele Bintichen te peça para amarrar suas sandálias... até em cima...Enfim, a incerteza está sempre presente em nossos momentos e ações. Temos o hábito de pensar em certezas, quando sabemos que o tempo é finito, que as interações são inúmeras e incontroláveis. É claro que precisamos planejar o futuro, mesmo cheios de incertezas. Temos que arriscar. Mas acho que este planejamento deve ser flexível e eivado de intuições.

O pensamento matemático nos atrai e traz paixão. Preferimos viver com certezas – é compreensível. O time de futebol tem que ser ou azul ou vermelho. Se alguém alegar que o time azul só é bom de vez em quando (não sempre) – um pensamento estatístico – isso tira a graça da torcida. Se alguém pondera que tal político não é canalha sempre, que tem lá seus acertos, isso tira totalmente a graça da crítica. Queremos briga.

Um amigo professor diz que andou com dificuldades de convencer uma turma de estudantes da existência de gênios entre seres humanos. Os meninos diziam que não existiam gênios. Ele exemplificava com o Pelé, os meninos diziam que ele não era nenhum gênio. Argumentavam que o Pelé era politicamente incorreto, não defendia os negros, queria morar mesmo nos Estados Unidos da América. Aparentemente estavam confundindo genialidade com santidade. Sugeri a ele que usasse a Estatística para convencê-los. Eu diria a eles que geniais são as pessoas que conseguem executar uma atividade muito acima das pessoas medianas, muito acima da maioria. E são pouco freqüentes estas pessoas, são raras. E, ainda, não se consegue ser genial em muitas atividades ao mesmo tempo. Talvez em uma só. O que não implica ser politicamente correto ou um ser humano excepcional. Percebo que quando se descobre que Jung ou Freud tinham lá suas fraquezas humanas, isto é usado para diminuir suas genialidades como psicanalistas. Bobagem. Eles continuam geniais em suas obras, únicas. Quando Caetano Veloso se mostra vaidoso e arrogante, parece não mais ter valor músicas como “O Ciúme” ou mesmo o movimento tropicalista. Bobagem.

Outro aspecto do lado estatístico da vida é a mediocridade. A crença na média. Acreditar na média, procurar fazer exatamente o que todos fazem medianamente e acreditar que se é um gênio por isso, é uma vaidade mais do que tola. Imbecil, digamos. E o cotidiano está pleno de exemplos. Todos de boné com a aba para trás, para serem...diferentes. Todos tatuados, para serem...diferentes. Todos de calças folgadonas e ouvindo a mesma música. Somos todos diferentes. Da geração anterior. Mas iguais entre si.

Talvez estas descrenças em genialidade sejam geradas pela crença na mediocridade. Afinal, tenho ficado surpreso como a mediocridade tem feito sucesso atualmente.

A mediocridade está na moda ... e na média.