Nada mais!

11/11/2020

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Acabara de sair do mar naquele dia cinzento e chuvoso. Nadara por cerca de quinze minutos em água tépida com pequenas marolas, mas que pouco atrapalharam o seu exercício. Foi uma boa nadada. Sentia-se livre na água.

Tirou os apetrechos: pé de pato, óculos e palmar. Colocou-os sobre um tablado de madeira recém montado, base para os quiosques de praia da temporada de verão que se iniciava.

Sentou-se sobre o madeirame novo sentindo-se calmo, tranquilo e sereno. Olhava o sem fim do horizonte, com o mar de um cinza escuro plúmbeo forte, emoldurado pelo quebrar das ondas com suas tiaras brancas espumosas lambendo a areia carinhosamente. Longe, uma bruma impedia a visão da linha em que, aparentemente, o mar acabava. Uma leve brisa refrescante batia-lhe pelo corpo.

Voltou-se para o lado esquerdo da praia, olhando um morro imponente e verdejante de mata nativa sendo acariciado pelas baixas nuvens do nevoeiro opaco e denso, que passavam, rapidamente, descortinando a cada lufada a beleza luxuriante da vegetação.

O vento fresco acariciava-lhe o corpo, deixando-o em estado de plenitude. Fora o aconchego do mar que lhe acalmara a alma e o espírito depois de nadar. Tinha um calmo sentimento de prazer.

Seus pensamentos não iam a lugar algum. Somente apreciava a sensação agradável de estar ali com seus sentidos atiçados e plenos, captando tudo o que acontecia a sua volta.

Seus olhos viam com acuidade as cores que o mar lhe apresentava, a areia, as nuvens, a vegetação, as rochas, o céu, as gaivotas e fragatas em seu voo tranquilo e leve. Viam também as pessoas que caminhavam pela areia, cada qual com seu traje, seu corpo, seu andar, seu olhar, seu ser.

Seus ouvidos ouviam o som das ondas quebrando na praia, o vento zunindo fracamente, as conversas das pessoas, os guinchos das gaivotas, o latido dos cães, os vendedores anunciando seus produtos e seus próprios sons: sua respiração e o bater do seu coração.

Seu nariz sentia o cheiro da maresia, da brisa que trazia os odores da praia, da vegetação, do seu corpo molhado, do madeiramento novo em que estava sentado.

Sentia-se personagem integrante dessa beleza gratuita que a natureza lhe apresentava e a apreciava na plenitude de um ser observador e sensível.

Nada mais!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 12/11/2020
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