As rosas de Carmem

Ela acorda como todas as manhãs. Depois da rotina tão comum e mecânica de servir café ao marido e filhos vai à garagem onde guarda seus apetrechos. Lá numa estante reservada, estão suas luvas, tesouras, aparadores, regador, adubos e demais objetos. Pega-os com a delicadeza de sempre. Olha para o céu. Azul celeste. Senta-se na grama e ao cantar dos pássaros que fazem sinfonia em seu jardim, começa a aparar os arbustos. Rega as margaridas. Aduba as árvores frondosas e poda os galhos secos. Num moisaico de cores entre bromélias, lírios, jasmim, tulipas, amores-perfeitos, camélias, cravos, copos-de-leite e plantinhas estonteantemente verdes, Carmem se vê absorta, totalmente embriagada pelos aromas e texturas, como se ela mesma fosse mais uma das flores que tanto ama. Isso que o paraíso ainda está por vir: As Rosas! Ah como ama as rosas... tão belas, frágeis, perfeitas. Das rosas cuida com um amor fora do comum, dedica tempo e energia. Mais do que isso. Dedica paixão, vida! Cuidar de seu jardim e em especial dar amor às rosas é o que faz de Carmem uma pessoa feliz, pois enquanto rega, apara, aduba e conversa com suas "amigas"... Carmem SONHA! E esses sonhos alimentam sua alma. O jardim é seu mundo secreto. Sua conexão com o Infinito. Quando o sol se põe ela anda lentamente até a garagem, com tristeza aguda guarda seus aparatos. Entra em casa e sobe para banhar-se. Logo embrenha-se na cozinha para preparar um assado com ervilhas para o jantar e recebe as crianças com um sorriso carinhoso, ajuda-lhes com a lição. Ouve atenciosamente sobre o árduo dia de trabalho do marido e massageia-lhe os pés. Assite o programa das oito em família, põe os filhos na cama, finge ser uma dona-de-casa convencional. Nada, absolutamente nada parece fazer sentido nessa vida para Carmem. Então ela abre a janela e deixa o aroma das rosas entrar...

Anamaria Moraes
Enviado por Anamaria Moraes em 27/10/2007
Código do texto: T711827
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