Aderbal

Aderbal era um sujeito como outro qualquer. A diferença, é que nada que ele tentava fazer, dava certo. E ele tentava de tudo, desde pequeno.

Ainda na escola, ele tentou fazer um desenho da sua família. Era lição de casa, ele não poderia errar. Aderbal estava indo bem, até. Já tinha desenhado o pai, a mãe, o irmão e o cachorro. Uma pena mesmo, foi ter acabado a ponta da lapiseira bem na hora de se auto-retratar. Resultado, nota 5,0.

Mas, aos trancos e barrancos, ele ia passando de ano. Ia crescendo, superando série após série. Já no ginásio, Aderbal decidiu fazer o curso de escoteiro do colégio. Ele estava indo bem, era o líder do grupo. Mas, no dia do “batismo”, da primeira aventura da equipe na floresta, ele acordou ardendo em febre. Óbvio, a mãe não deixou o menino sair de casa.

Numa outra passagem, já com seus 17 anos, Aderbal decidiu dar uma festa em casa. Seus pais estavam viajando, seria uma festa de arromba. Convidou o colégio todo, as meninas mais bonitas, inclusive aquela, por quem ele era apaixonado. Pediu ajuda a um amigo, fizeram todas as compras e deixaram tudo pronto para o festão de sexta a noite. Dessa vez tudo daria certo, não fosse o fato de ter chovido tanto na estrada, que seus pais decidiram dar meia volta, e adiar a viagem para o dia seguinte. A festa, que não tinha hora para acabar, não chegou nem a começar.

Mais velho, na faculdade, no primeiro estágio, no trabalho, era sempre a mesma coisa. Aderbal sempre tinha a melhor das intenções, mas no final, alguma coisa insistia em dar errado.

Cansado desta situação, ele decidir dar um fim a essa história. Quebrou o porquinho, pegou os trocados que estavam perdidos nos bolsos de suas calças, achou um dinheiro na carteira do seu pai e foi até uma loja de armas. Com a grana toda, conseguiu comprar apenas um revólver velho, usado. Comprou apenas 2 balas. Uma, serviu de teste, para aprender a atirar. A outra, ele mandou na própria cabeça.

Mas, como tudo na vida de Aderbal, essa tentaviva de suicídio também falhou. Os médicos disseram que ele deu sorte, que a bala não atingiu o cérebro em cheio. Ela entrou em sua cabeça, e saiu, pelo outro lado, fincando na parede.

Depois de meses no hospital, Aderbal teve alta. Ele tinha perdido os movimentos do maxilar, ficou cego de um olho e surdo de um ouvido. Ao se olhar no espelho, a cicatriz no rosto, depois de tantas operações, dava a impressão de estar vendo um monstro. Ele ficou com problemas também nas articulações, e tinha dificuldade para andar e mexer os braços. Ficou também com problema na fala. Desde então, ninguém conseguia mais enteder sequer uma palavra que ele tentava dizer. Ele não morreu, mas ficou completamente desfigurado.

Bom, essa é a história do Aderbal. Um cara que tentou se matar, e virou débil mental.