Sou uma Mulher de Pouca Fé.

Só para usar um termo de informática, eu digo que gostaria de deletar o ano de 2020.
Queria que quando chegasse o dia 31 de dezembro, à meia noite, nos fosse dado o poder, ou dádiva, ou milagre, de reiniciarmos 2020 novamente e que este ano que passou fosse completamente esquecido e nossa idade, é claro, também deveria retroceder um ano.
Então, alguém que estava perto e me ouviu, interferiu dizendo que não, o ano de 2020 foi um grande ano de aprendizado e a gente precisava passar por isso para, daqui em diante, sermos melhores e que, com certeza, a humanidade sairá muito melhor desta vez. Que isto foi tão somente um desafio, uma provação para que possamos aprender a sermos mais humanos e que foi o pior que já vivemos e haveremos de sair vitoriosos.
Oi? Mais humanos, melhores, do que mesmo que você está falando?!
Foi aí que subi nas tamancas, rodei a baiana, baixei o barraco.
E todas as desgraças pelas quais a humanidade já passou ao longo dos séculos e não nos ensinaram nada?!
Todas as epidemias e pandemias, todas as guerras, todos os grandes desastres naturais ou provocados, todas as pragas, isso para não me ater a nenhuma especialmente, é só ter um tantinho de conhecimento da história mundial, com a qual não aprendemos nada!
Acho que sou uma mulher de pouca fé, é o que sempre digo.
A única coisa que sei é que a desgraça é sempre maior quando ela me atinge, pois quando é com outrem, lá no outro lado do mundo, ou em época em que não vivi (sei lá!) a tragédia nunca é tão grande assim.
Porque eu acredito que a humanidade já poderia ter melhorado bastante se olharmos apenas para os últimos vinte séculos, porém isso não aconteceu.
Continuamos egoístas, narcisistas, egocêntricos, idiotas, individualistas, interesseiros, querendo impor nossas crenças e ideias a qualquer custo.
Aprendemos mesmo foi ficar dentro de casa na marra. De resto, só o tempo dirá e talvez eu não viva o bastante para ver.
Ah,tá! Outra coisa que aprendemos é que, ao menos, nossa ciência está muito evoluída.
Certo, concordo, cada um evolui a seu modo.
Os que evoluíram sobremaneira viraram santos e eu ainda tenho minhas dúvidas.
Daí me disseram que este é um planeta de expiação.
E num universo sem fim,tinha que ser exatamente conosco?
Estou cansada deste ano inglório, infrutífero, gorado.
Não quero mais reuniões on-line, cursos, workshops, saraus, lives, desafios, amigo secreto, vídeos, google meet, zoom, whatsapp…
Uma amiga minha, poetisa, fez e postou um poema de natal onde faz vários pedidos a Cristo e eu, cá com meus botões, fiquei pensando que pedimos muito e damos bem pouco.
Se não podemos resetar esse ano para restaurá-lo novamente, então não serei hipócrita; no dia primeiro do ano novo não vou pedir ao universo que nos conceda a paz mundial, como faria uma miss vazia, nem a “cura” para o COVID 19, porque a ciência já está cuidando disso, pedirei apenas muitos, muitos encontros com os amigos e quase tudo estará resolvido.
Eu disse quase tudo, pois, como já falei, sou uma mulher de pouca fé.
Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 02/01/2021
Reeditado em 08/01/2021
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