Balões coloridos no céu das desilusões

Era um domingo, dia de descanso do Sr. Fontes. A senhora Fontes vinha guardando economias com as despesas domésticas há semanas e já se contavam alguns vinténs em sua caixinha em cima da geladeira. O almoço seria especial. Nada de cozidos, assados, e nem aquelas viagens demoradas e calorentas até o sítio da vovó.

Iriam a uma lanchonete, onde Julinha poderia pedir um hambúguer, batatas fritas e até um refrigerante. Depois passeariam pela costa... molhariam os pés no oceano azul e dariam cambalhotas na areia.

Tomariam sorvete na praça, assistiriam os palhaços do circo e por fim, ao chegarem em casa, um delicioso bolo de chocolate com sete velinhas esperaria por eles. Julinha as apagaria, faria um desejo e guardaria para sempre aquele dia em sua memória.

Estava tudo planejado! O aniversário perfeito para sua amada filha.Sra. Fontes havia planejado por meses a fio o sétimo aniversário de Julinha.

Pois as coisas nem sempre são como se idealiza. E não foi. O marido, vendedor de tapetes, telefonara de outro estado argumentando de todos os jeitos que não chegaria a tempo para o almoço, talvez, quem sabe, para apagar as velas no final da tarde. "Divirtam-se sem mim, querida. Prometo levar um bom presente." "Mas meu bem, o que digo à Julinha?" "Ora, Marta, diga que estou à caminho".

Nisso Julinha levantara-se correndo, desceu as escadas cantarolando a alegria de estar mais velha, mas assim que sua mãe contara-lhe da ausência do pai, o sorriso murchou, e a garota passou o dia com um sorriso triste.

Foram as duas à lanchonete, à beira do mar molhar os pés, ao circo ver os palhaços... e Julinha percebeu que assim como o dela, o sorriso dos pallhaços, também era triste.

"Mamãe, será que os papais dos palhaços viajam no aniversário deles?"

A senhora Fontes não entendeu tal interrogação. "Filha, vamos tomar sorvete, venha".

Enquanto a menina esperava sentada no banco da praça com seu sorvete de morango, Sra. Fontes pegou algumas fichas e foi a um telefone público ligar para a empresa do marido a fim de saber notícias. "Ah senhora, seu marido estava à caminho de casa, mas recebemos uma encomenda urgente e acabamos de enviá-lo para outra cidade para atender a demanda. Mas não se preocupe, ele deve ligar para sua casa esta noite".

Sabendo disso, a mãe chegou até a filha e disse: "Querida, está vendo aquele vendedor de balões?" "Sim mamãe, são todos muito coloridos, e voam no ar!" "Pois vamos até lá, Vou comprar um de cada cor para você, pois quero que seu dia seja muito colorido e alegre."

Nesse momento houve um esboço de sorriso no rostinho angelical de Julinha.

Já segurando firme os balões de todas as cores nas mãos, andavam para casa. Foi quando a mãe decidiu explicar que apagariam as velas sozinhas e cortariam o bolo. Porém deixariam o pedaço maior e mais gostoso para o papai que voltaria em breve com um belo presente.

Nesse momento, uma lágrima silenciosa molhou um rostinho angelical e balões coloridos tomaram o céu ...

Voaram longe... para aonde vão todas as desilusões das garotinhas de sete anos...

Anamaria Moraes
Enviado por Anamaria Moraes em 30/10/2007
Código do texto: T715797
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.