Dosagem

Orgulho, vaidade, ambição, malícia... Inúmeros são os adjetivos que quando excessivamente aplicados - para mais ou para menos - tornam-se daninhos e nos apequenam, mas quando bem empregados, transmutam-se em valorosos aliados.

Dosar corretamente é arte complexa; exige tempo na carne, derme sulcada, alma açucarada...

Delimitar fronteiras intangíveis demanda inteligência que transcende a mera capacidade de reter conhecimento. Exige que senhoreemos instintos, emoções, sentimentos, pensamentos... Forças abstratas as quais estamos subordinados.

Quando “David Banner” os “medos” rotulam-nos como: inconsequentes. Quando “Hulk” “condecoram-nos” como: covardes.

O medo nocivo afugenta oportunidades, surrupia sonhos, ofusca o brilho dos olhos... É letal pesticida que torna estéril os mais fecundos solos, onde promissoras sementes não conseguem germinar.

Em noite tempestuosa é ele quem ordena ao náutico abandonar o leme e se atirar nas águas revoltas de mares bravios. Desarvorado ele acata, mesmo quando insistentemente notificado por rádio marítimo que a bonança logo se apresentará.

Os acometidos pela síndrome do pânico têm medo de sentir medo. É como se o opressor tivesse terceirizado sua tarefa. Como se houvesse colocado um de seus capangas grudado em sua vítima.

Nem permanentemente destemido, nem excessivamente amedrontado.

Não tema temer e quando por ele for enlaçado, alforrie-se na fé; poderoso antibiótico que combate eficazmente a infecção do medo.

A arena da vida reclama incessante ousadia, mas é imperioso reconhecermos o preciosismo da paz, que só o ventre da prudência é capaz de gerar.

Capacite-se nas dosagens. São elas que determinarão se seus medos asfixiarão suas ousadias ou se essas serão os sextantes que lhes apontarão em que direção singrar.